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A manada adorou a música que ouviu ontem do Federal Reserve (Fed), o
banco central dos Estados Unidos. E comemorou.
A reunião do Comitê de Política Monetária, o Fomc, tomou a decisão
esperada e elevou em um quarto de ponto (0,25%) os juros básicos nos
Estados Unidos, para 5,25% ao ano. Melhor que isso foi o conteúdo do
comunicado divulgado logo a seguir.
Em síntese, lá ficou dito que a economia americana está em fase de
desaquecimento, o que, em princípio, afasta o perigo de estouro da
inflação; que um dos problemas da área financeira, a bolha
imobiliária, está sendo equacionado; e que a política de juros vai
dando conta da tarefa de conter a inflação.
Não faltou a advertência de praxe de que, apesar da melhora dos
sinais, o Fed tratará de cortar as asas da inflação, se ela voltar a
surpreender.
Pareceu claro o recado de que a política do Fed não vai se
impressionar demais com as eventuais novas manifestações da inflação
americana. Vai levar mais em conta o que está acontecendo na
atividade econômica. Se o consumo vai sendo contido, será inevitável
que, mais à frente, a inflação também cederá terreno e, nesse caso,
que a política de juros seja afrouxada.
E assim ficou entendido. Os observadores concluíram que está próximo
o fim do aperto monetário, ou seja, o fim do ciclo de alta dos juros
internacionais, que começou em junho de 2004.
Os mercados, tão tensos nas três últimas semanas, se desarmaram. O
dólar voltou a cair no câmbio internacional diante das outras moedas
fortes: 0,76% diante do euro e 1,34% diante do iene japonês. O ouro
saltou 1,36% e as bolsas festejaram.
O Índice Dow Jones, que mede a evolução das principais ações
negociadas em Nova York, subiu quase 2,0% e voltou para o patamar dos
11.200 pontos. A Nasdaq avançou quase 3,0%. São números especialmente
elevados para os padrões americanos.
O prêmio de risco que se paga para os títulos de dívida do Brasil
caiu 14 pontos. Aqui, a reação foi equivalente. O dólar fechou em
baixa de 2,12% e a Bolsa avançou 4,7%.
Isso talvez não seja suficiente para pôr um fim à corrida para a
segurança e à aversão ao risco que começou na primeira semana de maio
porque um fator subjetivo responsável pela turbulência ainda não foi
eliminado.
Os mercados sentem saudades do presidente anterior do Fed, Alan
Greenspan, e ainda não confiam inteiramente no taco do sucessor, o
economista Ben Bernanke.
Isso significa que pode voltar aquela cisma de que, sob nova direção,
o Fed ficou tolerante demais com a inflação. Ou, então, a de que a
necessidade de mostrar serviço vai obrigar o Fed a apertar mais do
que o necessário a política dos juros.
Este é o tipo de estado de espírito que favorece volatilidades de
todos os tipos. De todo modo, em duas ou três semanas, será possível
conferir até que ponto a temporada de medo foi afastada.
A melhora geral do ambiente externo se compõe com a mudança da
percepção dos analistas internacionais sobre o comportamento da
economia brasileira. Isso sugere que a temporada de dinheiro mais
raro, que começou na primeira semana de maio, se reverteu e que os
capitais deverão perder parte do medo de aplicar dinheiro em ações e
títulos do Brasil.
Outro ponto a conferir.l