Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 29, 2006

Ministro diz que se sentia enganado pelo presidente

Estado

‘Ele foi ético até na hora da saída, mas Lula não foi
ético com ele’, reclama um amigo de Rodrigues

Expedito Filho, Vera Rosa

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, está deixando o governo
com a sensação de que foi enganado pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, segundo teria contado o próprio ministro a um de seus
principais confidentes. “Nos últimos três meses, o Roberto pensou em
deixar o ministério várias vezes e só não fez por que não queria
pedir demissão meio a crise entre os produtores e o governo”, contou
um amigo do ministro. Ele carregava um rosário de queixas e as
dividiu com o presidente, durante jantar no Palácio da Alvorada,
terça-feira.

Durante a conversa, o ministro combinou sua saída para uma semana
depois do encontro. Chegou em casa e comentou com seus quatro filhos
que finalmente deixaria a pasta para tocar seus negócios. No dia
seguinte, sentiu-se mais uma vez enganado: a notícia vazou por
iniciativa de fontes supostamente palacianas e ele acabou tendo que
confirmar a demissão, antes de conversar com as principais lideranças
do setor. “Ele foi mais uma vez enganado. Ele foi ético até na hora
da saída, mas Lula não foi ético com ele”, acusou o confidente.

Roberto Rodrigues ainda teria recebido um telefonema do presidente
Lula assegurando que o vazamento não teria ocorrido por iniciativa do
governo. “Por mim também não, eu só falei com os meus filhos”, teria
respondido o ministro.

Até então, o ministro considerava-se protagonista da própria
demissão. Ele já tinha pronto um pacote de argumentos com o qual
tentaria demonstrar que cumprira tudo o que fora prometido em seu
discurso de posse.

Mais tarde, quando recebeu oito deputados ruralistas passou a
entender que o jogo político pode ser tão traiçoeiro como um rodeio,
onde o boi que parece manso acaba sendo o mais letal.

Ele foi informado pelos parlamentares de que o governo o tirou do
comando da Agricultura para atender o PMDB, abrindo a primeira vaga
para uma grande aliança já de olho no segundo mandato de Lula. “O
governo manipulou para abrir a vaga para o PMDB”, resumiu um outro
confidente do ministro, pedindo para não ser identificado. “Foi uma
renúncia tão espontânea quanto um parto induzido”, definiu o deputado
ruralista Ronaldo Caiado (PFL-GO).

Essa não foi a primeira vez Rodrigues pediu demissão. Há cerca de
dois meses, o ministro avisou o presidente que não poderia ficar na
equipe no segundo semestre e nem participar da campanha pela
reeleição, como Lula havia pedido em diversas conversas.

Diplomático, alegou problemas de saúde na família, embora em outras
ocasiões já houvesse escancarado a safra de problemas em sua pasta e,
há tempos, estivesse insatisfeito com a falta de apoio da equipe
econômica.

“Ele estava extremamente constrangido nos últimos três meses, perdeu
dinheiro do orçamento e ainda não conseguiu resolver o problema de
endividamento do setor, os amigos queriam que ele saísse, mas o
ministro insistia em não criar problemas para o presidente”, contou o
confidente de Rodrigues.

Dessa vez foi diferente. No jantar do Alvorada, Lula pediu que o
ministro reconsiderasse a decisão, mas ele não cedeu. Ainda ontem, em
conversas reservadas, o presidente lamentou sua demissão.

Lula sempre considerou o ministro da Agricultura um técnico
competente, que cumpria as tarefas e ainda agregava apoio ao governo
- apesar das queixas de radicais do PT , que chamavam Rodrigues de
defensor do latifúndio e do agronegócio.

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