Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 29, 2006

REINALDO AZEVEDO A Parte e O Todo: Lula conseguiu quebrar o agronegócio em três anosi

BLOG REINALDO AZEVEDO

Tenho simpatia pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, mas, até certo ponto, bem feito para ele! Este deverá ser o destino de todos os que decidiram servir ao governo Lula na esperança de evitar que descambasse. Precisamos aprender que é muito mais patriótico fazer oposição do que coonestar uma farsa sob o pretexto de evitar o mal maior.

Lula é o triunfo do oportunismo sobre qualquer racionalidade. Seu governo só é considerado "virtuoso" pelo mercado financeiro porque o Cassino da Banânia funciona que é uma maravilha. Mesmo assim, prestem atenção ao noticiário: cresce a chamada "aversão ao risco". O Brasil está melhor do que a Turquia, é fato, mas isso também não é lá grande coisa. O vento em que Lula navega, naturalmente, não é obra sua. O que ele fez de melhor, nesse caso, foi não fazer nada.

Mas vejam aonde chegou um setor, o agronegócio, que ele pegou, como se diz, "bombando": era um dos mais virtuosos do mundo. Em três anos, conseguiu lhe quebrar as pernas. Incompetência de Rodrigues? Só a de ter ficado no ministério até agora sem perceber que ele era uma das virtudes com as quais o PT lustrava todos os vícios. Como era do setor, funcionou como um cala-boca no agronegócio.

A agricultura regride, a área plantada diminui, o real forte vale por uma praga de gafanhotos, e, no entanto, o governo deixou Rodrigues a pão e água. Lula tem outras prioridades. E não precisa mais manter um ministro "deles". Já pode pôr um seu. O setor, finalmente, será entregue ao petismo.

A causa imediata da saída de Rodrigues foi sua resistência em fazer campanha. Mas o ritual de humilhação já dura muito tempo. O corte no Orçamento de sua Pasta correspondia a um pé no traseiro. Até havia pouco, Lula se fingia de democrata à moda salomônica e mantinha o MST no Incra e um chamado ruralista na Agricultura. Agora, as duas pastas serão entregues a João Pedro Stedile.

Mas o mercado não está nem aí. Se o Apedeuta decidisse amanhã matar todos os primogênitos, alguém indagaria numa das mesas de operação: "E isso é bom, ruim ou neutro para nós?"

Tempos difíceis vêm por aí. Lula descobriu a economia da miséria e não vai largar esse osso tão facilmente. Estima-se que 4% do PIB já estejam comprometidos com as "generosidades" oficiais com os sem-alguma-coisa. "Que ótimo!", dirão os idiotas. Ótimo se, de fato, fossem programas de transferência — e de geração — de renda. Mas não são. Eles só congelam os pobres e os mantêm cevados e conformados, como Lula confessou ontem que gosta de vê-los.

O país vai bem, até o 17º andar, em questões que não dependem do governo e que estão diretamente relacionados à demanda externa. Foi só a agricultura, que vivia a sua fase dourada, precisar de uma política governamental em razão justamente do mercado externo e da política cambial, e deu com a cara na porta.

Se a gente der crédito a parte do jornalismo econômico, acredita que o Brasil está imune a crises, tanto é que a nota de sua dívida foi até elevada por agência de classificação de risco. Mas leiam atentamente o que aconteceu com as empresas que tentaram fazer captação no exterior. Há quase dois meses, os sinais de mau humor dos mercados são evidentes. Lula está mostrando como lida com crise.

E para não dizer que não falei...
Leio na coluna de hoje de Merval Pereira, no Globo, que Alckmin quer evitar a todo custo que Lula faça comparações com o governo FHC e que a estratégia do tucano é demonstrar que o que tem de bom no governo começou nos anos FHC, porém o país poderia estar melhor se etc, se etc, se etc. Não dá. Nessas horas, sempre me lembro de Antonio Ermírio, quando candidato a governador, dando aula de raiz cúbica no horário eleitoral gratuito. Quércia levou a eleição só fazendo conta de somar...

Tem de comparar, sim, governador. Comece, por exemplo, pela Agricultura; depois, passe pela Previdência. Faça uma parada nos índices de violência. Sobretudo não se esqueça de comparar Lula com Lula: ele ainda deve ao país 6 milhões de empregos.

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