Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 30, 2006

A Parte e O Todo - Alô, Geraldo: cuidado com a armadilha. É para bater mais. E esqueça a Copa


BLOG DO REINALDO AZEVEDO

Ninguém perderá o braço direito — ou o esquerdo, se canhoto — se apostar que as análises todas de por que Geraldo Alckmin encurtou a distância em relação a Lula recairão sobre a sua aparição na TV no horário político do PSDB. Deve ter tido alguma influência. Mas este é também o caminho da perdição. Corresponde a alguém que está com muita pressa para chegar a algum lugar e, em vez de esperar o trem, que ainda demora algum tempo, pega um jumento que está à mão.

Alckmin cresceu porque passou a bater em Lula a valer. Cresceu porque o programa do PFL fez uma desmontagem impiedosa do governo do Babolorixá da Banânia. Cresceu porque FHC, contra todas as análises tortas contaminadas pelo petismo, teve a coragem de falar em "corrupção".

Beirando agora os 30% no primeiro turno (números do Datafolha), com avanço de sete pontos em um mês e com uma diminuição da distância de seis, os retranqueiros logo vão entrar em ação: "hora do cuidado; já chega, vamos ser propositvos etc e tal." Lula também terá horário eleitoral gratuito, não custa lembrar. E ainda vai colher os frutos de todas as suas bondades, como a ampliação gigantesca do Bolsa Família e a MP que reajusta o salário do funcionalismo. Se o STF vetar, melhor ainda para o petista.

Lula só vinha parecendo um candidato imbatível porque, obviamente, ninguém lhe dava combate e porque parte da mídia decretou que todo mundo é igual. Como não é, como as lambanças maiores são as do PT e como o partido tem a máquina na mão, é óbvio que tal conjunto favorece o presidente candidato.

O certo é que a desconstrução do super-Lula é não apenas possível como, ousaria dizer, relativamente fácil de ser feita. Basta que, para tanto, se tenha coragem. Basta que os tucanos e pefelistas ponham uma coisa na cabeça: hoje, a eleição está perdida; o, por assim dizer, "risco" é ganhar. Quem tem de defender a cidadela e está obrigado a um discurso de justificação do statu quo é Lula, não Alckmin.

Um dado a mais vai turvar a análise: vão dizer ao tucano que as críticas ao presidente não tiveram grande efeito porque este manteve os seus votos, oscilando de 45% para 46%. Errado. As críticas estão conquistando os eleitores indecisos. É preciso seguir no caminho da desconstrução do petismo, chegar a um eventual segundo turno com uma distância substancialmente diminuída e, aí, então, pensar no que seria uma outra eleição, construindo, na trajetória, um clima de virada.

Lula só parece e pareceu eleito por antecipação porque uma espécie de catatonia tomou conta do tucanato; porque, visivelmente, o próprio Alckmin tinha um plano para derrotar José Serra na disputa interna, mas não tinha um para derrotar Lula. Ainda falta algum tempo para o início do horário eleitoral, quando, então, a exposição de Alckmin será substancialmente ampliada: e é preciso, então, neste tempo, reformar o que se vem fazendo até aqui.

Há um mês, a diferença entre os dois, no Datafolha, era de 23 pontos; agora, está em 17. Digamos que, no fim de julho, diminuísse outros seis pontos — sei que é dificílimo, mas não é impossível. Ao chegar a um patamar de 11 pontos, na prática, numa eleição polarizada, está-se falando de 5,5. A simulação de segundo turno do Vox Populi já fala numa diferença de oito pontos; vale dizer: quatro.

Mas é preciso não desistir do trem para montar no jumento. Para ganhar, Alckmin terá de fazer alguns eleitores mudarem de lado. E, para tanto, será preciso, sim, dedicar-se a muitas comparações: de Lula com Lula (as promessas de 2002); de Lula com Alckmin (governo federal e governo de São Paulo) e, se preciso, de Lula com FHC. O cotejamento em nada envergonhará os tucanos; muito ao contrário. E, acima de todas as coisas, será preciso ouvir o que pensam as maiorias silenciosas sobre um par de desmandos que estão por aí.

Essa gente ainda não foi convocada. Lula, é claro, dados os números, vence com folga. Mas já deu para perceber que tal cenário é perfeitamente desmontável. Basta não ter medo de enfrentar o PT. E é preciso olhar os números. O principal alento do tucano está na rejeição: a de Lula é de 31%, mais ou menos correspondente àquele terço do eleitorado que nunca vota nele. Alckmin é rejeitado por 19%, que é mais ou menos o tamanho do eleitorado petista. Há muito a avançar.

Onde o lulismo resiste
Os números deixam claro que o lulismo resiste entre os mais pobres, os de baixa escolaridade e o eleitorado nordestino. Em todos os casos, a máquina assistencialista do governo entrou pesadamente. Isso impõe duas tarefas principais ao comando da campanha de Alckmin: será preciso ampliar ainda mais a vantagem no Sudeste-Sul, entre os mais escolarizados e os de maior renda. Nesse caso, o perfil do bom gerente funciona, mas também o discurso da ética na política. As classes médias urbanas são as mais indignadas com o estado geral das artimanhas petistas.

Parece-me praticamente impossível que o tucano venha a virar o jogo nas categorias em que Lula lidera hoje. Mas é possível, sim, diminuir sensivelmente a diferença. E, nesse caso, volto à tecla inicial: é preciso relembrar a obra do PT. É bom não esquecer que existe muito pobre sem-vergonha por aí; mas também os há aos montes com vergonha na cara.

Idéia idiota
Não sei quem foi o gênio que sugeriu que Alckmin vá à final da Copa do Mundo caso o Brasil esteja entre os dois finalistas. Deixem essa história de misturar futebol com política para Lula. Caso os brasileiros cheguem lá, o tucano pode muito bem comemorar o título com uma festa de seus correligionários aqui. Será que a população vê com bons olhos esse tipo de coisa? Acho que não.

Se o Brasil vai à disputa final e ganha, vão acusar o tucano de oportunismo. Se acontece o pior, e o Brasil perde, fica com a fama de pé frio. Uma das boas qualidades do perfil de Alckmin é não parecer um oportunista vulgar. Não deveria começar agora.

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