Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 29, 2006

Com Lula, sem futuro Roberto Macedo Estado

É notória a obsessão do presidente Lula em comparar dados do período
de sua gestão com os dos anos FHC, seguido por seus partidários, como
o senador Mercadante, que na disputa pelo governo paulista, e sem ter
o que mostrar como executivo, até publicou livro sobre esse assunto
nacional. No modo de dizer do atual presidente, eu duvido que neste
país tenha havido obsessão semelhante no período republicano!

Assim, na recente convenção da qual saiu candidato - que novidade! -,
gastou boa parte de seu pronunciamento nessa mesma linha. Como de
praxe, revelou despreparo, ao confundir o valor do superávit
comercial com o das exportações, errando em quase US$ 75 bilhões.
Mostrou também que essa obsessão serve para esconder que não cumpriu
suas próprias metas, como fez ao enfatizar os números do salário
mínimo e dos empregos com carteira assinada no seu governo, mas
omitindo que deixou de cumprir sua promessa de dobrar o valor real
desse salário e a de gerar 10 milhões de empregos.

Assim, é obcecado com o passado naquilo que lhe interessa, e sem
credibilidade para dar garantias quanto ao futuro, pois prometeu o
que não pôde cumprir. Além disso, vem plantando as sementes de um
futuro ainda mais difícil, conforme argumentarei mais à frente.

Obviamente a preocupação que aflige todos é com o futuro. Ademais,
cabe lembrar que FHC não é candidato e que, se Lula acha que tudo vem
da força pessoal de cada postulante, a comparação relevante seria com
seu principal adversário eleitoral, Geraldo Alckmin. Entretanto, essa
comparação não lhe interessa, pois perderia em quesitos relevantes
como responsabilidade fiscal, gestão eficaz e eficiente, e até mesmo
em matéria de crescimento econômico, apesar da camisa-de-força que de
Brasília aperta São Paulo com os incômodos laços de câmbio baixo e
juros altos, os quais lembram dois dos piores traços do período FHC,
e que Lula se esmerou em copiar.

Aliás, nas melhores escolas os alunos que só repetem o que foi dado
em aula não ganham as maiores notas, atribuídas aos que vão além,
revelando saber mais e inovando nas suas respostas, às vezes até
apontando erros dos próprios professores. Mas a grande ação inovadora
do governo Lula na arte de governar, o escândalo do "mensalão",
também o credencia à reprovação.

A comparação intertemporal que faz de dados econômicos também é falha
na sua lógica, a da boa coisa é só com a gente, pois ignora que na
economia o presente não se constrói de um momento para o outro, mas
para o bem ou para o mal se assenta em fatos precedentes. Assim,
entre outros aspectos, a recuperação das exportações decorreu de um
movimento iniciado no segundo mandato de FHC, permitido por um
cenário externo favorável e pela desvalorização do real, que
estimularam os exportadores. Já o crescimento dos empregos formais
não pode ser dissociado da simplificação e redução de impostos
trazida pelo Simples, também da gestão anterior. E o Bolsa-Família,
de que tanto Lula se utiliza politicamente, nada mais é que um
refogado de vários programas sociais que já existiam, engrossado com
mais temperos e rotulado com novo nome. No que o governo atual de
fato inovou, o Fome Zero, sobreveio um grande fiasco.

Sobre o crescimento da economia, a lição relevante é que pelas forças
internas ele está há muito tempo estacionado em taxas baixas, travado
pelos fracos investimentos produtivos, em particular os do governo,
enquanto os privados são prejudicados pela alta taxa de juros, pelo
câmbio valorizado e pela elevadíssima carga tributária. Assim, o
crescimento tem oscilado ao sabor do estímulo que vem de fora - o
crescimento da economia mundial -, no que abre de espaço para nossas
exportações. Ora, neste governo, em média anual, esse crescimento
trouxe ano a ano muito maior estímulo à economia brasileira que nos
oito anos de FHC. Nestes, segundo organismos internacionais, o
crescimento do comércio mundial (exportações mais importações) foi de
51,2%; no governo atual, só nos seus três primeiros anos o aumento
foi de 34,6% e se estima uma taxa de 46% de 2002 a 2006.

Esse enorme estímulo mais recente, contudo, foi mal aproveitado,
pois, se levado em conta, a economia brasileira deveria ter crescido
a taxas bem maiores que as do governo anterior. Mas o que se viu foi
o Brasil ficar na rabeira de seus próprios pares, os países
emergentes, e passar a ser até desprezado como integrante do grupo
conhecido como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), pois já surgem
referências apenas ao RIC, dos que crescem muito mais.

Nessa perspectiva do futuro que se assenta no presente, a oferecida
pelo governo Lula também assusta, pois optou por outra má lição de
governos anteriores, a da expansão da carga tributária, e inovou na
direção errada, ao reduzir ainda mais a proporção dos gastos de
investimentos, ao expandir fortemente o número de funcionários
públicos federais, inclusive os admitidos sem concursos, e aumentar
seus salários sem critérios. Também inovou negativamente ao emperrar
ainda mais a administração, centralizando-a e desfigurando uma
importante inovação modernizadora do governo anterior, as agências
reguladoras, ao lado de optar pelo voluntarismo e pelo favoritismo
num setor crucial para o futuro, o das Comunicações.

A propósito, dois artigos publicados por este jornal no domingo são
ilustrativos do desgoverno Lula. São balanços, de leitura
indispensável, da situação atual dessas agências e desse setor (Lula
quer acabar com as agências, de Suely Caldas, B2, e O desastre do
governo Lula nas Comunicações, de Ethevaldo Siqueira, B14).

Enfim, com Lula, é o Brasil sem futuro. Que venha o futuro sem Lula.

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