Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 28, 2006

Vidas salvas EDITORIAL Estado

A partir de um acurado trabalho de inteligência, como o que se espera
de organizações policiais preparadas e eficientes, a Polícia Civil de
São Paulo conseguiu evitar o massacre de entre 5 e 15 agentes
penitenciários do Centro de Detenção Provisória (CDP) de São
Bernardo, planejado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital
(PCC). Por meio de escuta telefônica, informações obtidas por agentes
infiltrados na organização criminosa e denúncias vindas de quadrilhas
rivais, a polícia havia descoberto, havia 15 dias, a operação prestes
a ser executada por um grupo de pelo menos 22 homens e mulheres, a
mando do PCC. As informações detectadas indicavam que o comando do
PCC, em represália ao rigor imposto a seus chefes presos, dera o
prazo de 10 dias (sob ameaça de punição capital) a líderes locais da
facção na Grande São Paulo, para que executassem funcionários de CDPs
em São Bernardo, Diadema, Mauá e Santo André.

Antecipando-se ao novo ataque e vigiando os criminosos durante cinco
dias, em frente aos CDPs da região do ABC, no momento em que estes
estavam para eliminar os três primeiros agentes penitenciários, que
se dirigiam aos pontos de ônibus, ao saírem de seus locais de
serviço, 70 policiais enfrentaram a "tropa" do PCC, mataram 13
bandidos e prenderam 5. Outros 4 conseguiram fugir. Um dos policiais
foi baleado, mas não sofreu ferimentos graves, graças ao uso de
colete à prova de balas - outra circunstância digna de elogio para a
segurança pública paulista.

A população de São Paulo - e, certamente, do País - jamais se
esquecerá da recente tragédia por que passamos, quando a facção que
domina a criminalidade neste Estado, dentro e fora dos presídios,
cometeu 300 covardes ataques entre os dias 12 e 19 de maio, nos quais
mataram 42 policiais e 5 civis. Recorde-se que os policiais foram
"caçados" quando não estavam em serviço, em suas residências ou em
passeios com suas famílias. Segundo informou o governador Cláudio
Lembo, havia agora informações de que outros atentados teriam sido
programados para durante jogos da Seleção na Copa do Mundo - o que
estaria de acordo com o estilo traiçoeiro e covarde desses ataques.

Como não poderia deixar de ser, de novo surgem vozes criticando o
fato de a polícia ter atirado contra o bando armado, em lugar de,
simplesmente, prender seus integrantes. É como se os policiais
tivessem que seguir a "ética" dos cowboys de Hollywood, de sempre
esperar o inimigo tentar sacar a arma antes... Ora, bandidos armados,
chegando para um ataque na madrugada, em seis carros, resistindo à
prisão, deveriam ser enfrentados como? Além disso, os 13 tinham
comprovadas ligações com o crime, em geral, e o PCC, em particular.
Onze deles tinham antecedentes criminais, mas o que elimina qualquer
dúvida sobre a atividade a que se dedicavam são as declarações que os
parentes dos mortos deram à Folha de S. Paulo de terça-feira,
reconhecendo que irmãos e filhos pertenciam ao PCC.

Se a ousadia do crime organizado no País - não apenas em São Paulo,
bem entendido -, cuja complexidade de causas aqui não cabe tratar, já
vinha se intensificando há anos, a capacidade demonstrada, naqueles
terríveis dias de maio, pelos chefes das facções criminosas, mesmo
encarcerados em presídios, de submeter milhões de pessoas a uma
situação urbana caótica, com toque de recolher e tudo o mais, estava
a exigir uma resposta enérgica, firme e imediata a qualquer ameaça à
ordem pública. Afinal de contas, a "batalha de São Paulo" surpreendeu
uma das cidades mais populosas do mundo com um tipo de violência
indescritível.

A intranqüilidade e o medo levados à população, com o que os
integrantes da facção criminosa pretendem fazer "afrouxar" a
disciplina imposta a seus chefes presos, não poderiam nem podem
resultar na complacência das autoridades, pois isso significaria a
plena falência das instituições públicas - ou a demonstração
definitiva de sua incapacidade de assegurar a obediência à lei e à
ordem. Eis por que é necessário reconhecer que a Polícia Civil
paulista realizou um bom trabalho - e em seu crédito entram muitas
vidas salvas.

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