Lula incorporou o espírito do venezuelano Hugo Chavez e reciclou o técnico Zagalo para fazer hoje em Garanhuns, interior de Pernambuco, seu mais incendiário pronunciamento da série inaugurada há pelo menos duas semanas (ver nota abaixo).
Chavez é coronel - Lula, ex-metalúrgico, sequer serviu ao Exército. Chavez controla as Forças Armadas - Lula prometeu aos militares um aumento de 23% e agora lhes oferece 1,8%. Se tanto, Lula poderá vir a ser um Chavez caricato. Não dará certo.
À medida em que se sente cada vez mais acossado, Lula cai na tentação de montar palanques pelo país a fora, troca o figurino de presidente da República pelo de candidato às próximas eleições, e eleva temerariamente o tom de sua retórica.
No momento, tudo o que o país precisava era de um presidente equilibrado, sensato, sábio e que demonstrasse capacidade de comando para fazê-lo atravessar a mais grave crise política desde a que resultou em 1992 na queda de Fernando Collor.
Contudo, o que Lula oferece ao país é sua aflição, seu silêncio obstinado diante de fatos que destroçam seu partido e que ameaçam emparedar seu governo, e um discurso inconsequente, populista, messiânico e demagógico.
Quando menciona que "dizem" que ele não pode concorrer a um novo mandato e deixa de identificar com clareza os que dizem isso, quer passar a impressão de que está sendo vítima de um complô para lhe cassar um direito assegurado pela Constituição.
Ora, é crescente o número de adeptos da tese de que ele não deveria ambicionar um novo mandato. Mas não se tem notícia de nenhum movimento digno de ser levado a sério para mudar a Constituição e impedi-lo de se reeleger.
Quando afirma que não deve sua eleição "a favor de ninguém", que a deve somente "ao povo desse país que acreditou" nele "e que votou" nele, disserta sobre o óbvio - embora traia o desejo de distinguir entre o povo que o elegeu e o que não o fez.
Ora, uma vez eleito, Lula se tornou presidente de todos os brasileiros. Foi ele mesmo quem fez questão de dizê-lo. Os que não votaram nele e os que a ele continuam se opondo não são menos brasileiros por causa disso. Nem inimigos dele.
"Se querem respeito, que me respeitem" , disse Lula no palanque armado em Garanhuns. Para em seguida concluir: "Eu ainda não disse se sou candidato.. Se eu for, com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez".
Ora, quem está faltando com o respeito a Lula? Aqueles que o criticam de modo mais duro? Por acaso é desrespeito dizer que ele não estava preparado para exercer o cargo? É manifestação de ódio prever, por exemplo, que a crise poderá enguli-lo?
Ao insinuar que tentam impedi-lo de se candidatar novamente; ao separar quem o elegeu de quem a ele se opõe; ao dizer que está sendo desrespeitado sem, no entanto, dizer como; e ao falar de ódio, Lula emite claros sinais de que é um líder desesperado.
Começa a dar razão àqueles que dizem há bastante tempo que as crises ao longo do atual governo têm nome e sobrenome: Luiz Inácio Lula da Silva.
De Azelma Rodrigues do Valor Online:
"Em clima de comício, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje em palanque na sua cidade natal, Garanhuns (PE), que se for candidato à reeleição, em 2006, "eles vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer".
Segundo ele, adversários têm dito aos jornais que "é preciso fazer o presidente Lula sangrar, para ele chegar fraco às eleições". O que, a seu ver, significa que há temor à sua possível candidatura, pois reafirmou que "só no momento certo" decidirá.
"Eu ainda nem disse que sou candidato. Agora, dizer que eu não posso concorrer? Com base em quê? Com medo? Com medo que eu possa provar que em quatro anos fiz mais do que eles em oito anos?", disse Lula, em referência ao mandato duplo de Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor.
Ao falar sobre a crise, Lula reiterou que espera que a CPI mista dos Correios aponte culpados e os denuncie à Justiça. Mas que também aponte inocentes. "Que sejam duros com os culpados e justos com os inocentes" , disse ele em referência aos parlamentares da CPI mista.
"Muitas vezes se mistura o arroz com a casca" , afirmou. "O Brasil precisa diferenciar quem quer apurar de quem quer fazer carnaval." E pediu que a imprensa dê manchetes com os nomes de inocentes.
Ele pediu "respeito" , reiterou que o que sabe não aprendeu na escola, mas aprendeu "de uma mulher analfabeta o que é ter dignidade e ter vergonha na cara, respeitar e ser respeitado".
Lula disse ainda: "eu não devo a minha eleição a favor de ninguém; devo ao povo desse país, que acreditou e que votou em mim e é a ele que prestarei contas" .
"Se querem respeito, que me respeitem" , afirmou, e concluiu: "eu ainda não disse se sou candidato, no momento certo eu direi. Se eu for, com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer".
Um comentário:
De Lula, hoje, em Garanhuns, interior de Pernambuco:
"Eu sou um homem calejado, eu apanhei muito na vida, eu nunca, nunca na minha vida tive alguma coisa que eu não tivesse que lutar que nem um desgraçado para conquistar, nunca. E quem conhece a minha família, quem conhece os meus irmãos sabe que é assim.
Nós estamos vivendo uma crise política, uma crise política em que todo dia tem uma denúncia aqui, uma denúncia ali, outra denúncia acolá, e até agora, como não tem o resultado da CPI, vamos aguardar, porque a CPI é uma coisa importante para a investigação.
Eu só espero que, quando terminar a CPI, os culpados sejam entregues num processo ao Ministério Público para serem processados. Espero que o Ministério Público mova uma ação e quem deve pagar, pagará, seja do PT, seja católico ou evangélico, seja do PMDB, não tem cor, não tem raça, não tem sexo, não tem ideologia, todos precisam pagar.
Mas também eu peço que aqueles que não cometeram nenhum delito e que os seus nomes ocuparam manchetes de jornais, na hora em que for provado que eles são inocentes que, pelo menos a imprensa brasileira divulgue e peça desculpas àqueles que foram acusados injustamente. Vamos ser duros com os culpados e vamos ser justos com os inocentes porque, muitas vezes, o que a gente percebe é que mistura o arroz com a casca e depois a gente não sabe se vai separar o joio do trigo.
E eu acho que pode ter muitos culpados e pode ter muitos inocentes. E a única coisa que um presidente da República pode querer é que haja justiça, para o bem e para o mal.
Por isso é que eu quero que vocês saibam o seguinte: eu já vi nos jornais alguém dizer: “precisamos fazer o presidente Lula sangrar, para ele chegar fraco na eleição de 2006”. Eu ainda nem disse que sou candidato. Mas tem gente que fala: “é preciso fazer ele sangrar, para ver se ele chega fraco às eleições”. Outros dizem: “ah, seria bom se o presidente Lula não concorresse à reeleição”.
Ora, não fui eu que aprovei a reeleição. Pelo contrário, o mandato era maior. Com medo que eu ganhasse em 2004, eles diminuíram. Depois, eles ganharam, e aumentaram. Eu, na Constituinte, votei para não ter reeleição. Mas, agora, dizer: eu não posso concorrer. Com base em quê? Com medo de que eu possa provar que em quatro anos eu fiz mais do que eles fizeram em oito anos. Eu penso que é preciso a gente sempre ficar atento a tudo que a gente lê, a tudo que a gente vê.
A gente tem que saber o que é verdade, o que é mentira, quem quer apurar ou quem quer fazer carnaval, quem está tentando ajudar ou quer atrapalhar, porque tem gente que dizia: “o Lula não pode ganhar as eleições porque ele não fala inglês, como é que vai ser a relação dele com o mundo?.
O resultado, meus queridos governadores é que, desde que eu entrei no governo, todo mês nós batemos recordes de exportação neste país. O dado concreto é que o Brasil nunca teve a credibilidade que tem lá fora porque o que eu não aprendi na escola eu aprendi de uma mulher analfabeta, que é ter dignidade e ter vergonha na cara, respeitar e ser respeitado, é isso que eu faço com os outros e é isso que eu quero que façam comigo.
Se querem respeito, me respeitem, porque eu não devo a minha eleição a favor de ninguém, eu devo a minha eleição ao povo deste país, que acreditou e votou e é a eles que eu prestarei contas no momento certo.
Eu nunca disse a ninguém, estão aqui governadores e prefeitos, estão aqui ministros e deputados, eu nunca disse se seria ou não candidato à reeleição, até porque eu tenho o compromisso de governar, no momento certo eu direi. E vou dizer: se eu for, com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer."
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