Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 20, 2005

Tales Alvarenga Crise de nervos

VEJA

"Qual é o pior cenário? Faça sua escolha.
A minha eu já fiz. Não pode haver nada pior
do que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva"

Crise é uma inevitabilidade das democracias. Não se resolvem crises com conchavos de cúpula nem com reformas de última hora. Eles bem que tentaram. Ameaçaram com uma reforma política de emergência, ameaçaram com o risco do mercado derreter, ameaçaram com o fantasma da sublevação social. Não adiantou nada. Pensavam ainda que bastava meia dúzia de figurões tucanos e petistas se reunirem para combinar um tratado de paz, com o objetivo de abafar a crise, e foi o que se viu.

No fundo, o brasileiro sabe que não adianta tremer de medo imaginando o impacto de um impeachment no mercado. O mercado é covarde. Reage com crise de nervos cada vez que a estabilidade política fica em situação de risco.

As crises têm uma vantagem. Sempre acabam e, quando seu ciclo se esgota, o país sai do outro lado emocionalmente esgotado porém mais maduro. Nunca vi o Brasil com estabilidade política prolongada. Não preciso lembrar a você do suicídio de Getúlio Vargas, da renúncia de Jânio Quadros e da deposição de João Goulart. Não preciso também citar a ditadura militar. Nem o confisco da poupança e a queda de Fernando Collor. Francamente, vamos parar de pisar em ovos porque há risco real de impeachment de Lula. O Brasil já agüentou outras e está agüentando esta melhor do que as anteriores.

O senador José Sarney, que fez um governo quase tão ruim quanto o de Lula (pior do que o de Lula é impossível), propôs na semana passada uma reforma política de emergência para criar um semiparlamentarismo. Não adianta, senador, ninguém vai engolir essa lorota. Alguns políticos chegaram a pedir que nem sequer se pronunciasse a palavra impeachment. Por que não?

Estão tão cheios de dedos que inventaram até o "risco Severino". Não se pode investigar Lula porque, se ele cair, Severino Cavalcanti, o presidente da Câmara, poderá virar presidente provisório, ameaçaram os arautos do caos. E daí se Severino virar presidente por trinta dias? Será ele, por acaso, pior do que Lula? Ambos são ignorantes. Severino não tem experiência administrativa, e Lula tem a experiência de um fracasso administrativo. Lula foi sindicalista e fundou um partido. Mas de que serviu isso quando ele se tornou presidente? O carisma de Lula só serve para discursos sem nexo sobre a grandeza moral dele próprio e sobre a capacidade que ele vai transmitir ao Brasil de ser um líder mundial em alguma coisa que nunca deu para entender o que seria.

Severino encheu o gabinete de parentes. O filho de Lula, Fábio Lulinha, recebeu 5 milhões de reais de investimento em sua empresinha eletrônica, ali colocados pela Telemar, uma concessionária de serviço público. Quem é pior? O partido de Severino, o PP, tem Maluf. O partido de Lula tem José Dirceu, Delúbio Soares, Silvinho Pereira, José Genoíno, Professor Luizinho, João Paulo Cunha, Paulo Rocha, sem contar penduricalhos como Waldomiro Diniz e Marcelo Sereno. E a cereja do bolo, Marcos Valério. A penúltima cidadela, o ministro Antonio Palocci, levou um tirambaço na sexta-feira passada. Qual é o pior cenário? Faça sua escolha. A minha eu já fiz. Não pode haver nada pior do que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

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