"Que saudade do tempo em que
a banheira de Benedita da Silva
era um escândalo ético no PT"
Eram os deuses uma quadrilha? Eram os deuses da ética, os deuses da moralidade pública uma corja de assaltantes disfarçada sob um manto vermelho? Eram eles apenas um grupo de salteadores que assaltava – em reais ou em dólares, com donos de bingo ou donos do lixo, nos cofres públicos ou nos cofres privados – com três objetivos claros: financiar um projeto de poder, comprar o apoio de deus e o mundo e, como ninguém é de ferro, dar uma embolsada num pedaço da grana para ter um carro melhor, morar num apartamento mais amplo...? Era disso que se tratava o tempo todo? De um bando de propineiros?
Corra, Lula, corra.
"Lula é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete", disse Hélio Bicudo, na avaliação mais forte, mais aguda e mais sólida ouvida neste escândalo todo. O jurista Hélio Bicudo, do alto de sua intocada biografia de 83 anos, do alto de sua militância petista de 25 anos, do alto da dignidade de quem combateu de frente os esquadrões da morte em plena ditadura militar, disse que Lula é mestre em esconder a sujeira! Mestre!
Corra, Lula, corra.
O presidente da República não consegue dar uma explicação satisfatória sobre seu empréstimo de 29.000 reais junto ao PT. E lá se vai um mês. O presidente da República não consegue dizer como fez, para que fez, quem pagou e com que dinheiro. Agora mesmo, o ex-tesoureiro do PT dá um depoimento e, além de confessar que a campanha do presidente foi parcialmente financiada com dinheiro de caixa dois desembolsado pelo onipresente Marcos Valério, afirma que os 29.000 reais do empréstimo – provavelmente – vieram dos recursos do fundo partidário. Quer dizer que o fundo partidário serviu para dar dinheiro ao mestre? O mesmo mestre cujo filho conseguiu vender sua empresinha por 5 milhões de reais a uma grande companhia telefônica?
Corra, Lula, corra.
Que saudade do tempo em que a banheira de Benedita da Silva era um escândalo ético no PT. Naquela época, já se sabia do escândalo do caso Lubeca (propina de 200 000 dólares, São Paulo, 1989), já se sabia das denúncias de que o compadre de Lula andava achacando empresários interessados em prestar serviços às prefeituras petistas, mas ainda não se falava em rios de dólares indo e vindo por paraísos fiscais. Não se falava de mensalão no gabinete do presidente da República. Não se falava de Antonio Palocci recebendo, como prefeito de Ribeirão Preto, 50 000 reais por mês – ou, na cotação petista, um João Paulo Cunha mensal!
Corra, Lula, corra.
No filme de Tom Tykwer, a personagem Lola tem vinte minutos para conseguir 100.000 marcos e salvar a vida do namorado – mas sua corrida incessante pelas ruas de Berlim pode ter três resultados distintos. Corra, Lola, Corra quer dizer que cada passo, cada esquina, cada detalhe, cada escolha que fazemos pode mudar todo o resultado final.
Eram os deuses uma quadrilha? Eram os deuses apenas um bando que morre de medo de um doleiro abrir a boca?
Corra, Lula, corra. Os vinte minutos ainda não se esgotaram, mas se esgotam já, já.
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