O GLOBO
Numa caminhada pelas ruas do Leblon, em visita a uma das boas livrarias que lá estão, encontrei, logo no balcão de entrada, um pequeno livro que vem bem ao propósito dos dias de hoje: "A arte de furtar", de escritor anônimo e que data do século XVIII.
A leitura é ótima desde seu início, em que um texto de João Ubaldo Ribeiro abre as velas para a navegação.
O capítulo XXXVII da obra tem o título "Dos que furtam com a mão de gato" e começa com a lembrança de que "ladrões há dos quais podemos dizer que têm mais mãos que o gigante Briareu, porque não lhes escapa conjunção, lugar, nem tempo. Como se tiveram mil mãos, à dextris e à sinistris não erram lanço. E isto vem a ser furtar com mãos próprias, que não é muito; mas furtar até com as alheias é destreza própria desta arte, que vence na malícia e na sutileza todas as artes".
É fácil perceber, pelo exame dos documentos e a análise dos depoimentos recolhidos pela CPMI, pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e mesmo pela imprensa, que, nos últimos dias está com a sua sensibilidade investigativa à flor da pele, que estamos lidando com uma organização criminosa que fez da corrupção e do loteamento de cargos públicos uma ferramenta para esterilizar o Estado, enquanto o assaltava; movimentou grandes e impressionantes fortunas; possuía uma cadeia definida de comando, com mandantes e executores; lavava dinheiro e tem códigos de honra.
Investigar uma organização criminosa com mil mãos, das quais não escaparam "conjunção, lugar, nem tempo", não é uma tarefa fácil, principalmente se for nossa intenção interromper definitivamente as suas atividades, porque, para isso, precisaremos encontrar os seus líderes, os mandantes principais e interromper as suas trajetórias.
Ora, mas como saber, numa organização criminosa, quem são os mandantes?
A primeira etapa é identificar os que não são, para que os que verdadeiramente são não nos enganem.
É certo que quem diretamente corrompe ou é corrompido não é o mandante principal; quem lava o produto do crime — o dinheiro obtido — também não o é; quem diretamente pune ou premia, muito menos o é.
O mandante arquiteta, determina, autoriza, tem o interesse maior e recebe a melhor parte do resultado, do benefício. Não rouba, mas manda roubar; não lava dinheiro, mas manda que lavem; não coloca a mão na massa, mas autoriza e protege quem coloca.
O mandante de uma organização criminosa que interage com o Estado é sempre visível, mas dissimulado, e por isso nunca percebido como mandante.
Descobri-lo pela delação é um caminho, mas um caminho que exige inteligência e perseverança, porque a sua preservação é a segurança e a garantia dos demais. Afinal, é ele quem conhece toda a engenharia montada para a captura do Estado e sabe onde e como buscar perdão para os seus.
Para identificar os mandantes, precisamos, primeiramente, conhecer os objetivos reais da organização criminosa — saber que resultados ela quer obter, porque, a partir desses resultados, poderemos saber quem, efetivamente, ao final da linha, receberia ou está recebendo o benefício maior.
No nosso caso, será descobrir com que finalidade se deu o aparelhamento do Estado brasileiro, para no seu interior plantar aqueles que poderiam transformar contratos em ouro puro e esse ouro puro, em decisões legislativas e novos mandatos políticos.
Será que tudo o que estamos vendo e encontrando pelo caminho tinha, de fato, como finalidade única financiar campanhas eleitorais "por fora"? Se for só isso, já encontramos o mandante principal: o tesoureiro do PT.
Mas, se não for, ainda temos muito trabalho pela frente. Quem puder que nos ajude.
DENISE FROSSARD é deputada federal (PPS-RJ).
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