Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 21, 2005

Não há plano B Celso Ming

O ESTADO DE S PAULO

Chegou a hora de o presidente Lula dizer se esta é a política econômica do ministro Antonio Palocci ou se é a política econômica do governo.

A questão mais importante não consiste em saber até que ponto Palocci está envolvido com esquemas de corrupção do PT, acusação que desmente com a ênfase possível e que pode ser despropositada. Consiste em saber se, com Palocci ou sem Palocci, a política econômica é essa aí ou não.

Do ponto de vista meramente técnico, não cabem mudanças profundas neste resto de mandato, especialmente se não há nada pronto para colocar no lugar do que está aí.

Quem mais pede a cabeça do ministro são as esquerdas do PT, que reclamam dos "juros escorchantes" e do pedaço da arrecadação (superávit primário) canalizado para o pagamento da dívida pública e não, como pretendem, para projetos sociais. E, no entanto, essas esquerdas estão a léguas de distância da formulação de um plano B. O problema de fundo é a vacilação do presidente Lula. Pela crise, já culpou as elites de suposta conspiração contra o ex-pau-de-arara que chegou lá. E culpou o PT pelas mazelas que o encheram de indignação - como afirmou - e de quem exigiu pedido de desculpas.

Em determinadas circunstâncias, deu força a Palocci, a quem, há duas semanas, encarregou de negociar uma agenda mínima com dirigentes empresariais. Em outras, pareceu encorajar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou o presidente do PT, Tarso Genro, ou o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, a enfraquecerem o ministro Palocci no governo.

Em alguns dos seus pronunciamentos, Lula sugeriu a suspensão das denúncias, para que não contaminassem a política econômica. Em outros, preferiu dizer que a política econômica está blindada contra a crise e que é preciso apurar os fatos.

Às vezes, Lula pareceu envergonhado de não ter conseguido sucesso na sua política social, setor onde seus formuladores prometiam maravilhas. E, nesse caso, sugere que foi a austeridade fiscal imposta pela sua política que impediu esses avanços.

E, no entanto, Lula tem muito do que se orgulhar. E seu motivo de orgulho se estende aos resultados sociais já propiciados e os que ainda serão propiciados pela política econômica.

Há três anos, por exemplo, a inflação corroía os salários à proporção de 12,5% ao ano; hoje, ainda corrói, mas corrói bem menos, algo em torno dos 5,5%.

Há três anos, as exportações mal alcançavam os US$ 60,4 bilhões anuais; neste ano, deverão ultrapassar os US$ 113 bilhões, e isso significa aumento do emprego e aumento da renda do brasileiro. Há três anos, a dívida pública passava dos 60% do PIB e ameaçava descontrolar-se; hoje, oscila em torno dos 50% do PIB e está sendo contida.

Há três anos, a confiança externa na economia brasileira estava abalada, a ponto de empurrar o índice de risco Brasil para a casa dos 2.440 pontos; hoje, depois do choque de credibilidade administrado pelo governo e pelo ministro Palocci, mesmo em plena crise, oscila à altura dos 400 pontos.

Tudo isso ainda é pouco. Talvez não seja nem metade do caminho andado, porque o crescimento sustentado não está garantido. Mas é a base formidável para a construção de um edifício social. Ao contrário do que parece sugerir, o presidente Lula tem o que comemorar.

Infelizmente, está sem estratégia. Se não controla os ventos, Lula poderia ao menos ajustar as velas. O problema, como dizia Sêneca, é que isso de nada serve se o navegante não sabe aonde quer chega

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