Esse é o verdadeiro "pensamento único" do Brasil. Leio, por exemplo, a seguinte frase do cineasta Fernando Meirelles: "Há razões de sobra para discutir o impeachment, mas, como sabemos, nos últimos 30 anos pouquíssimos políticos foram eleitos com verbas declaradas oficialmente." Primeiro: isso não significa que não se possa e deva punir agora. Segundo, e mais importante: a irresponsabilidade de Lula não se limita a ter se omitido em relação ao caixa 2 das campanhas do seu partido. Há ainda provas documentais e testemunhais dos pagamentos de Valério a mando de Dirceu, com conhecimento de Lula, para o próprio PT e para outros partidos e seus políticos, até com uso de paraísos fiscais, em troca da obtenção ou ampliação de contratos com estatais. Se um presidente da República pode permitir isso, o que não pode?
Outro tipo de reação esdrúxula é a dos intelectuais petistas, dos professores, jornalistas e artistas vinculados ao partido que sempre disseram que Lula era um líder trabalhista, "socialista democrático", e não um político fisiológico e oportunista. Daí a série de conferências que está sendo preparada por alguns deles sobre "o silêncio dos intelectuais", com patrocínio da Petrobrás, em que vai ficar claro como não entendem que sua função é ser independente e cético, e não engajado e bitolado. Melhor que fiquem em silêncio, já que são incapazes de vir a público e dizer: "Nós erramos." Afinal, nem sequer viram que o governo Lula só fez aumentar o peso do Estado sobre a cabeça da sociedade.
Há exceções, claro. Hélio Bicudo, por exemplo, disse à Veja que "Lula é mestre em jogar as coisas para baixo do tapete", citando as acusações - abafadas e queimadas como tantas outras no momento - contra o "empresário" Roberto Teixeira, amigo do presidente. Reação melhor que a de muitos outros petistas da velha guarda. Mas a pergunta que fica é: por que não disse antes? Por que continuou sempre com o PT, partido no qual Lula mandava a ponto de ter concorrido quatro vezes à Presidência?
Não há como negar que Lula é irresponsável, além de despreparado. Não falta prova nenhuma. Para haver o processo de destituição não é preciso que ele ou sua família tenha se beneficiado pessoalmente, como os jardins da Dinda. Basta que a sociedade queira. E ela, aparentemente, prefere rechaçá-lo apenas nas próximas eleições, o que as pesquisas já mostram. Mas, com uma "direita" rapinante (Sarney, Severino, ACM), uma mídia míope, um mercado satisfeito e uma "esquerda" arcaica (MST, PSOL, UNE), a opinião pública poderá enxergar a maior lição da crise? Como dizia José Bonifácio, o que vigora é um "despotismo mole e açucarado" - tão mais nocivo porque servido como farofa de banana.
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