FOLHA DE S PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem a queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que antes os mercados financeiros encaravam como o avalista da política econômica, muda os rumos da economia brasileira. Por motivos diferentes, críticos ou entusiastas do atual modelo dizem que, mesmo que a crise chegue até a Fazenda, ele não muda.
Para os primeiros, isso significa que a já excessiva ortodoxia da equipe econômica vai aumentar; para os últimos, é sinal de avanço e de que o Brasil pode entrar em rota de crescimento sustentável, a despeito da aguda crise política.
"O Brasil está no limiar de um círculo virtuoso", diz Frederick Jasperson, diretor para a América Latina do IIF (Instituto Internacional de Finanças), que reúne os 320 maiores bancos do mundo.
Em entrevista à Folha (pág. B3), ele faz elogios rasgados ao desempenho econômico brasileiro e diz que os papéis do país no mercado internacional, baratos, são um convite às compras. "Apesar de todo o respeito que tenho pela equipe econômica, não creio que nenhum elemento ou ser humano no país possa ser considerado o salvador da pátria", sentencia.
No Brasil, Luis Fernando Lopes, economista do Banco Pátria, concorda. Diz Lopes que foram justamente os investidores estrangeiros que acalmaram os brasileiros, que entraram em pânico no meio da manhã de sexta. Quando vazou parte do depoimento de Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor de Palocci, o dólar chegou a subir 4%. "A racionalidade dos gringos acalmou o mercado interno", comenta Lopes, ao explicar que, no meio do pânico, os estrangeiros entraram comprando na Bovespa -que fechou em baixa de 0,95%. O dólar avançou 2,94%.
"Há uma lógica que vai na direção da continuidade da política econômica", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e hoje sócio da Tendências Consultoria. Ainda que Palocci deixasse o governo, o que ainda é apenas uma hipótese, diz ele, o desempenho econômico atual é um trunfo para o governo. Trunfo do qual ele não pode abrir mão. "Não há o que mostrar, na disputa política, que não sejam os resultados da política econômica. Se considerarmos que mesmo no campo político as pessoas tendem a ser um pouco racionais, não é provável que se mude a política", diz Loyola.
Assim, a aparente blindagem que protege a economia das turbulências políticas seria resultado não só dos bons indicadores externos mas também da convicção de que apenas um grande tremor, que ainda não ocorreu, levaria a mudanças da política econômica. "A impressão inicial é que dificilmente o governo alterará a política econômica. Se sair o ministro Palocci, entra alguém com o mesmo perfil", diz Antonio Licha, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú, diz avaliar que seria "suicídio político" mudar a política econômica a esta altura. "Ano após ano, a economia tem ganhado solidez. Isso faz com que a tendência seja de, qualquer que seja o governo ou ministro, continuar na mesma linha", diz.
Ortodoxia
Como os analistas que apóiam a atual política econômica, os críticos também dizem avaliar que ela não muda. Pelo contrário, dizem, ela deve se tornar mais apertada, cada vez mais ortodoxa.
"Vai acontecer o que o governo tem feito desde a posse, apertar um pouco mais a política econômica para convencer o mercado financeiro de que não vai mudá-la", diz João Sicsú, professor do Instituto de Economia da UFRJ.
Sicsú diz que a economia brasileira não está blindada. "As fugas de capitais existirão porque as portas estão abertas. Ocorreria agora se houvesse a dúvida sobre a manutenção da política econômica." Assim, argumenta o professor da UFRJ, a suposta blindagem só existe enquanto o Brasil abrir mão de adotar políticas não-aprovadas pelo mercados financeiros nacionais e internacionais.
Ricardo Carneiro, do Instituto de Economia da Unicamp, até usa o termo "blindagem", mas em outra acepção. Em entrevista à Folha (pág. B3), ele diz que o conjunto de políticas econômicas adotado pelo país, a despeito de equivocado, é blindado contra mudanças. Blindado, diz, "inclusive contra o voto popular".
O professor da Unicamp diz que o PT, por não ter incentivado o debate interno, não criou alternativas à política atual. A crise atual, diz Carneiro, levará a um aperto ainda maior. "Cada vez que o governo se enfraqueceu politicamente, a resposta foi mais ortodoxia na política econômica.
Para Josué Gomes da Silva, da Coteminas, filho do vice-presidente, José Alencar, e novo presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), é a solidez da economia internacional que segura a economia brasileira. "Se o cenário externo não fosse extremamente favorável ao Brasil, esse modelo não estaria blindado", afirma em entrevista à Folha (pág. B6).
A voz dissonante até agora foi a de John Williamson, do Instituto de Economia Internacional em Washington. Em entrevista publicada ontem pela Folha, ele previu instabilidade nos mercados e dificuldades caso o governo tenha que substituir Palocci, que ele considera uma espécie de pilar da política econômica do governo. "Mesmo que outra pessoa indicada para seu lugar [de Palocci] tenha as mesmas idéias, não está claro se seria alguém com a mesma competência e certamente seria improvável que ele comandaria com o mesmo peso político que Palocci veio a ter", disse.
(MARCELO BILLI)
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