O GLOBO
A previsão de inflação para este ano derreteu nas últimas semanas. Caiu também a previsão para os próximos 12 meses e para o ano que vem. Hoje a distância entre a expectativa do mercado e a meta é de dois décimos de ponto percentual. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que a taxa de juros é alta no Brasil por causa da incerteza do mercado em relação à trajetória da inflação. Faltou explicar por que os juros não caem quando a trajetória prevista cai.
É difícil explicar os juros brasileiros. Meirelles não deveria usar argumentos que contrariam os fatos que todos estão vendo. A previsão da inflação para o ano está caindo há várias semanas; há pelo menos três reuniões do Copom. Em maio, os analistas previam 6,38%; de lá para cá, despencou e já está em 5,3%, para uma meta de 5,1%. Certamente, uma diferença dessa entre expectativa e meta não exige uma taxa real de juros de 14%. É usar míssil para matar formiga.
Os juros brasileiros desafiam os economistas. Não é banal a explicação. Nem é tão fácil derrubá-los, como pensam os leigos; nem são tão aceitáveis quanto imaginam certos especialistas. O país tem um monstrengo no lugar da taxa de juros básica e, mesmo que ela caia, continuará tão mais alta que a de outros países que é necessário deixar as desculpas de sempre para se aprofundar na procura das causas de nível tão exageradamente alto e tão persistente.
Felizmente, a partir de setembro, o país entrará numa trajetória de queda das taxas de juros, mas perdemos já o melhor momento para iniciar essa descida. Agora o país está mergulhado em outra fonte de incerteza: a crise política. Outro argumento do presidente do Banco Central, apresentado ontem durante uma palestra, é o tamanho da dívida brasileira. É grande, sim, mas já caiu e tem hoje um perfil melhor.
Há dois anos, o Tesouro devia o equivalente a US$ 64 bilhões indexados ao câmbio; no fim de 2003, o total havia caído para US$ 56 bilhões; em 2004, caiu para US$ 30 bilhões e agora está em US$ 15 bilhões; isso é menos que 5% da dívida. Hoje o problema da dívida cambial, na análise feita pelo Bradesco, é "irrelevante". A dívida pública ainda é predominantemente pós-fixada, mas como a perspectiva agora é de queda dos juros, o próprio mercado começará a demandar títulos pré-fixados que dêem um ganho maior. Os prazos ainda são curtos, 44% da dívida vencem em 12 meses, mas já houve um perfil de vencimento muito mais curto. A dívida brasileira é um dos fatores dos juros altos, mas os juros altíssimos são um dos motivos pelos quais a dívida não cai mais rapidamente apesar de o país estar no sétimo ano consecutivo de superávit primário.
A inflação brasileira é alta para padrões mundiais. Mas a da Indonésia está em 7,8% ao ano, com juros de 8,9%. A das Filipinas está em 7,6%, com juros de 7,1%. Da Rússia está em 13% com juros de 13%. Da Argentina está em 9%, com juros de 6,81%, da Venezuela está em 15,3% com juros de 10,76%. Não é para copiar nenhum desses países, principalmente os nossos vizinhos com juros negativos, mas não é para considerar normal ter juros de 19,75%.
COMO os tempos hoje estão meio confusos, o cartunista Lan decidiu reler os clássicos do anarquismo para ver se entende o que está acontecendo. Encontrou o seguinte em Mikhail Bakunin, escrito no século XIX: "Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Entrevista:O Estado inteligente
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