Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 24, 2005

Zuenir Ventura Lições da crise

O GLOBO


Foram dois dias de calmaria e bonança em que governo e oposição comemoraram o que de certa maneira parecia ansiado por todos: a troca de elenco, de papéis e de clima político. Em lugar de valérios, delúbios, doleiros e prostitutas, um personagem como Antonio Palocci que, além da credibilidade, passou para o país tranqüilidade — pelo menos até que chegue à CPI dos Bingos o imprevisível na pessoa de Rogério Buratti, ex-amigo, ex-assessor e delator premiado. Teme-se que ele vá carregando revelações explosivas presas à cintura.


Alguém já disse que a imprevisibilidade é a marca dessa crise — tudo pode acontecer. Como no famoso pleonasmo cantado por Johnny Alf, o inesperado sempre faz uma surpresa. E em geral ruim. Torcer contra a lei de Murphy atualmente parece que não adianta muito: se algo tem chance de dar errado, pode ter certeza, vai dar mesmo. O pão do café da manhã de Lula tem caído diariamente com a manteiga para baixo.

A torcida para que Buratti esteja mentindo é tão grande hoje quanto a que houve em relação ao primeiro depoimento de Roberto Jefferson. A crença de que a verdade é apanágio dos virtuosos dificulta aceitar que ela às vezes aparece entre os viciosos. A esperança é que a história não volte a se repetir agora. Outra marca desses escândalos é o fato de que o inimigo não mora ao lado, mas dentro de casa. Nunca a oposição no Brasil teve tão pouco trabalho para desmontar um governo que se tem auto-implodido. Getúlio Vargas, de onde estiver, deve ficar olhando para Lula com inveja, lembrando-se de Carlos Lacerda, o demolidor de presidentes.

Meio como consolo, fala-se muito nos aspectos pedagógicos da crise. Afinal, alguma coisa de útil deve-se retirar sempre da adversidade. Independentemente do que acontecer hoje na CPI, devem sobrar lições para parlamentares, promotores e jornalistas que estão às voltas com essa tarefa delicada que põe em risco a reputação dos outros.

De minha parte, tenho algumas dúvidas em relação aos procedimentos do Ministério Público e da imprensa — à tagarelice de um lado e à busca do furo a qualquer preço de outro. Como fazer para que um instrumento pouco testado como a denúncia premiada, envolvendo negociação com bandidos, seja o começo e não a conclusão das investigações? Até onde pode ir a confiança na palavra de um condenado a 25 anos sem nada a perder? Como evitar que o jornalista, sem abrir mão da informação, seja manipulado por deputados, senadores e promotores?

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Como prefeito, Cesar Maia é um aplicado repórter investigativo. Ah, se ele desse à cidade a atenção que dá ao seu blog.

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