O presidente interino do PT, Tarso Genro, caminha a passos largos para se dedicar a um ano sabático, longe da política, caso se confirme a tendência dos membros do grupo do ex-ministro José Dirceu de não aceitar o ultimato, que expira hoje, para retirarem seus nomes da chapa que ele encabeça na disputa do diretório nacional do PT em setembro.
Tarso Genro, que emagreceu três quilos desde que assumiu a massa falida do PT, me declarou estar passando por uma situação de tensão política que não se compara nem mesmo ao que sentiu nos tempos da ditadura militar.
Ele está subindo de tom nas críticas ao antigo grupo dirigente, e acusa Dirceu de ter "responsabilidade política" pelas irregularidades cometidas pelo partido. Essa tese é mortal para Dirceu, que está se defendendo no processo de cassação do Conselho de Ética da Câmara. Do mesmo modo que também pode servir para condenar o presidente Lula, que Tarso sempre livra de qualquer culpa.
Aliás, sempre que se metem a fazer análises mais isentas sobre a situação, os petistas acabam deixando mal o presidente Lula. Foi assim com o ministro da Fazenda, quando garantiu que tem certeza de que não houve repasses seqüenciados para a direção do PT porque tinha o controle de sua prefeitura. E o presidente Lula, como pode alegar que não sabia o que se passava em seu governo, gerado no gabinete ao lado?
Entre as irregularidades cometidas pelo PT, Tarso Genro chega a enumerar crimes como "lavagem de dinheiro", sem especificar, mas deixando transparecer que sabe de alguma coisa que ainda não sabemos. Ontem, o senador Arthur Virgílio acusou no plenário do Senado Luís Favre, o marido da ex-prefeita Marta Suplicy, um indivíduo de passado trotskista e cuja nacionalidade é definida como franco-argentina, de ser o operador do dinheiro do PT no exterior.
Baseado em uma reportagem do jornal "Correio Braziliense", que dá os números das contas e detalhes da operação, inclusive o codinome que seria usado em duas versões, uma francesa e outra argentina. Favre trabalha com o publicitário Duda Mendonça, que foi quem revelou, na CPI dos Correios, a existência de um esquema internacional pelo qual foi pago por parte de seus serviços na campanha presidencial vitoriosa de Lula.
Quando indagado especificamente sobre a possibilidade de haver dinheiro do PT no exterior, Tarso Genro primeiro brinca dizendo que se houver terá que ser repatriado para pagar as dívidas. Diz que também já perguntou a vários integrantes da antiga direção partidária, inclusive a Dirceu, que classifica sem pestanejar como o cérebro por trás do esquema montado pelo PT a partir do governo. "Mas eles não abrem, não contam nada", lamenta-se. O que mais assusta no momento atual, segundo Tarso, é que sempre é possível que novas denúncias surjam, pois não existem parâmetros para saber qual a extensão do esquema que foi montado.
A improvável vitória de Tarso Genro nessa queda-de-braço com Dirceu teria, no entanto, uma conseqüência: a pressão contra a política econômica, se não imediata, pelo menos num hipotético segundo mandato de Lula. O que inviabilizaria uma campanha de Lula pela reeleição. Discutir a política econômica dentro do PT, e pressionar o governo a partir das conclusões partidárias, colocaria o mercado financeiro em permanente suspense.
Mas Tarso Genro faz questão de dizer que ainda é cedo para saber se Lula terá condições para se candidatar à reeleição, o que significa a admissão de fragilidade política do presidente, situação que, embora óbvia, não deveria ser ressaltada pelo presidente do partido que o apóia.
Caso Lula não concorra, Tarso adianta logo que não votaria em Antonio Palocci para presidente, anunciando assim que o PT que vier a dirigir não vê o ministro da Fazenda como um bom candidato, certamente por causa de sua política econômica. O que também enfraquece politicamente a posição do ministro Palocci, que tenta fazer prevalecer sua credibilidade diante das denúncias que também o atingem.
Tarso Genro está disposto a fazer críticas como um feroz oposicionista, na tentativa de resgatar a credibilidade do PT. Conclui-se daí que o PT só terá um futuro político se se dispuser a funcionar como a "consciência crítica" do governo, e não como sua extensão informal, como acusa a antiga direção de atuar. Ele garante que não está interessado em ser uma alternativa do partido à Presidência, mas já há setores da esquerda pensando nele. Só falta combinar com a turma do Dirceu.
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Na coluna de ontem, a tentativa de registrar os conflitos de geração que ocorrem na CPI dos Correios pareceu a leitores mais sensíveis que eu endossava críticas à atuação dos "garotos" do PFL, os deputados ACM Neto e Rodrigo Maia, e Eduardo Paes, do PSDB. Como essa avaliação injusta não corresponde ao conceito que faço da atuação dos três, quero registrar que a "afoiteza" dos "garotos" foi responsável por alguns passos fundamentais nas investigações.
Foi graças a ACM Neto que o Land Rover de Silvinho Pereira surgiu; foi o cruzamento de dados feito por Rodrigo Maia que identificou os petistas que sacaram na boca do caixa no Banco Rural de Brasília; e Eduardo Paes foi o primeiro a levantar questões sobre a Gamecorp, a empresa do filho de Lula que recebeu uma injeção financeira de R$ 5 milhões da Telemar.
Que continuem, pois, ditando um ritmo mais acelerado aos trabalhos, mesmo que políticos veteranos considerem que estão muito afeitos aos holofotes.
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