O GLOBO
A crise vai se aproximando do presidente Lula à medida que surgem pagamentos ilegais de mais de R$ 15 milhões do lobista Marcos Valério para o marqueteiro Duda Mendonça, quando este já trabalhava para o presidente eleito; para o escritório de advocacia que defendeu o PT no caso Celso Daniel, que desmonta a tese de que o dinheiro era apenas para gastos de campanha; com a missão quase oficial de Valério a Portugal para tratar de negócios particulares da Telemig Celular com as bênçãos do governo brasileiro, conforme insinuou em seu depoimento na Comissão de Ética da Câmara o deputado Roberto Jefferson.
Até mesmo o comprovante do pagamento de uma dívida do presidente Lula ao PT desapareceu, como a confirmar a suspeita de que ela foi paga pelas verbas inesgotáveis do mesmo Valério. Ao mesmo tempo em que as denúncias vão se acercando do presidente Lula, ele se coloca acima de todas as mazelas que vão sendo provadas nas diversas instâncias em que as denúncias são apuradas, e parte para o ataque advertindo, à maneira do técnico Zagallo, que seus adversários vão ter que engoli-lo.
O presidente tem preferido a retórica eleitoral a tentar explicar, ou pelo menos lamentar, as irregularidades já amplamente comprovadas. O senador Eduardo Suplicy, um petista atípico nos dias de hoje, voltou à cena para sugerir que o presidente se explique em uma entrevista coletiva, duas coisas que ele não gosta de fazer.
À medida que surgem as denúncias, acirra-se a crise política com a resposta da oposição, chamada à briga pelos seguidos improvisos presidenciais em reuniões com sindicalistas, cegonheiros, taxistas, e toda sorte de representantes dos chamados movimentos sociais que pretende mobilizar para defender seu mandato, que considera ameaçado, não pelas denúncias de corrupção que atingem amplas áreas de seu governo, mas pela perseguição das elites e da imprensa.
Ontem, com a subida de temperatura, o senador Antonio Carlos Magalhães perdeu a cerimônia e tocou em um ponto delicado, a negociação atípica da empresa de internet do filho do presidente com a Telemar. O senador Tasso Jereissati acusou-o diretamente de ser o responsável último por tudo o que acontece no país.
A palavra impeachment voltou a freqüentar os discurso da oposição, e já não há mais papas na língua quando diversos oposicionistas afirmam que, diante do amplo quadro de corrupção sistêmica que está sendo comprovado, não é possível que o presidente Lula não soubesse do mensalão e de outras práticas adotadas pelo PT, inclusive na sua campanha presidencial.
Como à época que antecedeu o impeachment do ex-presidente Collor em 92, hoje a equipe econômica faz as vezes do chamado "ministério ético" que na ocasião garantiu a governabilidade. Naquela época, houve um acordo tácito entre o Congresso, a sociedade, e alguns homens públicos apartidários, entre eles Marcílio Marques Moreira e Hélio Jaguaribe, que aceitaram assumir setores estratégicos do ministério e mantinham o diálogo em nome do governo, que se desmanchava em público.
O presidente, isolado no Palácio do Planalto, dava seus últimos suspiros em discursos populistas que acabaram gerando uma reação popular contrária nas manifestações de rua, com os caras pintadas e cidadãos vestidos de preto. Hoje, é a equipe econômica que faz a sustentação do governo, literalmente paralisado pelas denúncias que se desdobram e por um presidente que age como se nada tivesse com as graves denúncias que envolvem sem distinção membros do seu governo, de seu partido, de sua base aliada.
A situação política é tão paradoxal que o discurso presidencial tende cada vez mais à esquerda, assim como a nova diretriz de seu partido, e a política econômica é tão tradicional que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, vem ao Brasil em missão explícita de apoio, temendo que a crise política contamine a área econômica. A economia só foi contaminada em um dia, quando o presidente elevou o tom populista e deu a impressão de que estaria desencadeando um processo de transição para a política de enfrentamento que setores do governo, notadamente o ex-ministro José Dirceu, advogam como saída política.
Ao dizer que seus adversários vão ter que engoli-lo se decidir se candidatar à reeleição, o presidente Lula confia na manutenção dos índices de popularidade de que dispõe até o momento. E, ao sair discursando para os movimentos sociais e os "descamisados" alcançados pelo Bolsa Família, o mais abrangente esquema assistencialista que já foi montado no país, o presidente mostra bem onde vai buscar os votos que perdeu nas classes médias e nos formadores de opinião.
Com o PT vivendo uma tragédia que certamente lhe custará caro nas próximas eleições, o presidente Lula, se encontrar forças para se candidatar a um novo mandato, o fará sem base partidária, mas apoiado por seu carisma pessoal que confia sobreviverá à crise política, e em um populismo que pode lhe trazer votos dos grotões onde começou a ser votado nas eleições de 2002, graças ao apoio de políticos tradicionais do Norte e Nordeste, que na maioria já não fazem parte de seu grupo de aliados.
O PT e Lula perderam o apoio de seu núcleo principal de aliados, o grupo de formadores de opinião, e tentam se apossar de um eleitorado que além de nunca ter sido deles, tem memória curta e é facilmente manipulável por quem ofereça maiores vantagens imediatas. Se acontecer, será uma eleição atípica para o PT e para Lula.
Entrevista:O Estado inteligente
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