Lula não sabia de nada. José Dirceu não sabia de nada. Ambos nada tinham a ver com as decisões do PT. E eu me chamo Francisco, por preferência que tenho pelo gênio brasileiro em relação ao poeta inglês, freqüentador da mesa de cabeceira de meu saudoso pai.
Francamente; alguém pode acreditar na versão de que dois mordomos - Delúbio e Silvio Pereira - minassem os alicerces do quartel-general, sem que o rei e o príncipe tivessem a menor informação sobre suas iniciativas pecaminosas?
Na verdade, depois do ''eficiente'', mas absolutamente inverossímil, depoimento de Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara - seguindo a linha de Lula de tudo lançar sobre o partido, para que nada sobre como suspeita contra o governo -, nada mais natural do que a entrevista coletiva simultânea dada por Palocci e seu avalista, o secretário de Tesouro do governo americano. Tudo vai continuar como antes na política econômica. Exatamente na linha determinada pelo governo Bush, com quem Dirceu anunciou ter procurado estabelecer afáveis relações já durante a campanha.
Coerente, portanto, a naturalidade com que o ex-chefe da Casa Civil declarou abertos os gabinetes do Planalto para os representantes do grande capital internacional. Principalmente para aqueles que se beneficiaram pelo nunca investigado processo de privatização de nossas mais estratégicas empresas públicas.
Dirceu, todos sabem, foi o primeiro parlamentar do requerimento de CPI que, durante o governo FHC, propunha investigação profunda sobre os beneficiários das visíveis maracutaias naquela entrega predatória do patrimônio público à grande rapinagem capitalista internacional.
A conjuntura real implantada posteriormente mostrou cenário totalmente distinto. Quase surrealista. Algo correspondente a um roteiro de teatro em que o segundo ato trouxesse os personagens declamando textos antagônicos ao que interpretavam no primeiro. Dirceu se arrepende publicamente de ter pedido investigações sobre Eduardo Jorge, que vivia, no governo FHC, a função até recentemente exercida por ele, no governo Lula. José Eduardo Dutra, despedindo-se da presidência da Petrobras, se arrepende de ter votado contra a quebra de monopólio estatal de petróleo quando exercia seu mandato de senador. Mercadante, por várias intervenções na tribuna, lamenta a forma com que o PT fazia oposição ao mandarinato tucano-pefelista que nos assolou por oito anos da década de 90.
E os que não foram consultados sobre a guinada doutrinária e a rendição do PT ao grande capital, e insistiram em se manter fiéis ao programa partidário até hoje não alterado por nenhum Encontro ou Congresso nacionais - Heloisa Helena, Luciana Genro, Babá e João Fontes -, é que terminam sendo expelidos da legenda.
Compreende-se, neste contexto, que Dirceu, em seu depoimento, parecesse inteiramente cooptado pela idéia de que o Estado nada mais deve ser do que agente dos interesses do setor mais poderoso da economia.
Ou seja; aceitou a idéia de que cabe ao governo Lula manter sob controle a ação do que havia de movimento social organizado - através da cooptação de suas lideranças, até para ministérios - enquanto os bancos não cessam de acumular lucros pornográficos com a especulação sobre os títulos da dívida pública.
Lamentável. Porque se o depoimento de Dirceu teve a virtude de quebrar a aura de neo-herói que já vinha sendo colada na versão tupiniquim de tomasobuscheta, isto se fez ao preço de jogar o PT na lata do lixo, para não criar incômodos a Lula. Só resta, para completar o quadro, afirmar que nunca viu nem conviveu com Paulo Rocha, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, Manoel Severino - cabos eleitorais dos mais ativos em suas campanhas internas para a presidência do PT - e outros acusados de terem se atolado nas benesses das verbas delinqüentes que Marcos Valério intermediava. O lado sadio e transparente da briosa militância petista não merecia isso.
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