Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 21, 2005

ELIANE CANTANHÊDE O tripé ruiu

FOLHA DE S PAULO

 BRASÍLIA - O tiro de Rogério Burattino ministro Antonio Palocci tem dois efeitos dramáticos: ameaça a única ilha de estabilidade, que é (era?) a economia, e atinge a terceira ponta do tripé político do governo Lula. Dirceu se esborrachou, Gushiken caiu, Palocci está manco.
Palocci não é réu e muito menos se pode dizer que seja culpado. O que há, até agora, é o depoimento de Buratti, sem provas, sem evidências. Mas ele foi braço direito de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. Ele sabe das coisas. Se não há provas, há suspeitas fundamentadas. É grave.
Lula opera com o segundo time justamente no pior momento de uma crise sem precedentes. Márcio Thomaz Bastos não é político, é um bom advogado. Jaques Wagner não tem, e dificilmente terá, a intimidade e a influência sobre Lula que Dirceu e Gushiken tiveram. Dilma cuida da administração, Dulci é periférico.
Não bastasse, toda a energia do governo estava voltada para proteger Lula, abrindo canais com o Congresso e consolidando seus laços com os movimentos sociais e seu diálogo com as massas. Agora, a prioridade mil passa a ser impedir que a crise contamine a economia, única área que tem apoio do "establishment", segura os investimentos externos e justificava um certo otimismo no Planalto. A primeira reação do governo às acusações de Buratti foi a garantia de que, haja o que houver, a política econômica não vai mudar. O mercado gostou. A oposição calou.
O governo se afasta definitivamente do PT e passa a depender da racionalidade geral e, em especial, das oposições. Há um consenso de que Palocci só cai se surgirem fatos e dados consistentes e de que o impedimento de Lula não tem amparo na realidade política. Em contrapartida, está evidente que o esforço é para segurar Lula só até a posse do sucessor.
Dos homens do poder, sobra um: Lula. E sem reeleição.

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