Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 21, 2005

CLÓVIS ROSSI Prisioneiro de prisioneiros

FOLHA DE S PAULO

  SÃO PAULO - É terrível, mas o governo Lula tornou-se prisioneiro dos prisioneiros. Seja um doleiro como Toninho da Barcelona, condenado a 25 anos de prisão, seja um cidadão como Rogério Buratti, preso preventivamente, mas não condenado.
Para não mencionar a origem da crise, o depoimento de um réu confesso, como Roberto Jefferson.
À primeira vista, é injusto que gente com essa biografia (ou folha corrida) possa determinar a pulsação do governo e do país. Mas uma segunda olhada mostra que a culpa é toda ela do próprio governo/PT. À esta altura do jogo, ninguém do PT tem coragem de declarar que jamais fez negócios com Toninho da Barcelona, porque todos queimaram a língua quando negaram as acusações de Roberto Jefferson -apenas para vê-las confirmadas por sucessivos depoimentos.
Se era "mensalão" ou uma ou várias prestações, isso importa pouco. O que vale é que o Partido dos Trabalhadores comprou deputados com dinheiro de origem suspeitíssima.
Da mesma forma, ninguém se arrisca a jurar que a acusação de Buratti a Palocci seja falsa, porque o próprio ministro não pode negar que o acusador foi seu auxiliar muito próximo até 1996 e porque há fundadas suspeitas sobre irregularidades nas licitações de lixo não só em Ribeirão Preto mas em inúmeras cidades.
Até um petista de primeira hora, Paul Singer, com a cuidadosa linguagem de homem honrado e leal ao partido, descreve o ambiente partidário da seguinte forma, em artigo nesta Folha: "O PT passou a captar contribuições de empresas e empresários, como fazem os outros partidos. Com as contribuições, nem sempre formalizadas, vêm compromissos ocultos e que tendem a ser incompatíveis com os interesses sociais representados pelo PT. As raízes do escândalo que hoje nos arrasa estão nessas mudanças", explica Singer.
É por isso que o governo se tornou refém de prisioneiros.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog