Com uma única revelação, o extesoureiro do PT Delúbio Soares mais do que compensou todas as negaças e evasivas que marcaram o seu depoimento à CPI da compra de votos, anteontem, numa repetição do que se viu semanas atrás, quando inquirido pela CPI dos Correios. O insistente deputado Júlio Redecker, do PSDB gaúcho, secundado pelo próprio presidente da comissão, senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, conseguiu arrancar dele a confirmação de uma suspeita que se transformara praticamente em certeza depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça, na quinta-feira anterior: o partido de Lula usou o caixa 2 para custear a campanha do seu candidato presidencial. O PT cometeu crime eleitoral ao sacar de seus 'recursos não contabilizados', conforme o eufemismo em voga, para cobrir os R$ 457 mil gastos pelo atual ministro Ciro Gomes, então do PPS, com os seus vídeos de propaganda pró-Lula no segundo turno. (Ciro ficou em quarto lugar na primeira rodada.) Delúbio confessou ainda outro crime eleitoral: para ter o apoio do PTB, de parte do PMDB e do já mencionado PPS de Ciro na disputa decisiva com o tucano José Serra, o PT assumiu as suas dívidas, graças aos financiamentos do generoso Marcos Valério. Mesmo que quisessem, os petistas não poderiam fazer a compra às claras: a legislação proíbe o repasse de dinheiro entre partidos. Naturalmente, Delúbio insistiu em que jamais conversou sobre operações ilegais com o candidato de quem se diz 'seguidor'. Até aí, nada de novo. O Planalto já desmentiu, contra todas as minuciosas evidências, que o presidente estivesse a par dos R$ 10 milhões que o PL, depois de intermináveis negociações, a poucos metros de onde estava Lula, aceitou receber para aderir à sua candidatura e lhe fornecer o vice José Alencar. Além disso, no seu pronunciamento da outra sexta-feira o presidente disse que 'nunca' teve conhecimento seja lá de que delitos tenham sido cometidos, afinal de contas, em seu benefício. Lula parece fazer a sua parte em um acordo tácito com a oposição pelo qual ele protesta inocência e ela finge que acredita - para o bem de todos, felicidade geral da Nação. Há outros entendimentos implícitos que tampouco ousam dizer o seu nome. Um deles se deixa entrever, de um lado, no aplomb com que se comportou Delúbio em seu novo depoimento, a ponto de se permitir ironizar os inquiridores; de outro, por exemplo, em comentários públicos do presidente do PT, Tarso Genro. Na entrevista de ontem ao Estado, ele afirmou: 'O fato de Delúbio ter cometido ilegalidades' - haja eufemismos! - 'não o torna uma pessoa desprezível nem uma pessoa que deva ser sacrificada para salvar o partido e o governo. Isso seria uma indignidade de nossa parte.' É claro que o que Tarso quer é o escalpo do ex-ministro José Dirceu, a quem acusa de ser o responsável político pela crise. Mas isso não é tudo. O PT trata Delúbio com luvas de pelica menos, decerto, para ser ético com o companheiro, do que para evitar que, largado ao sol e ao sereno, ele 'dê com a língua nos dentes', como se dizia nas antigas histórias em quadrinhos. Não será um despropósito imaginar que o mesmo receio Lula há de ter em relação a Dirceu, presumivelmente o principal autor das 'práticas inaceitáveis' que fazem o presidente se sentir 'traído', conforme disse no seu discurso ao Ministério, há uma semana. Impossível esquecer que o então ministro assegurava que só fazia o que o chefe autorizava e não fazia nada que ele não soubesse. Pode ser mentira, mas pode não ser. Também fora do PT deve haver mais políticos ansiosos por limitar o estrago dos escândalos conhecidos do que por ir atrás de outros. Sintomática, nesse sentido, foi a decisão da CPI dos Correios de rejeitar a convocação imediata do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona, do presidente do Sebrae e ex-procurador de Lula, Paulo Okamotto, além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os dois primeiros nomes são pólvora pura. Um, porque certamente sabe tudo que vale a pena saber sobre o que muitos políticos fazem com os seus muitos recursos. Outro, por ser protagonista da esquisitíssima história da dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT, que o senador Jefferson Peres, do PDT amazonense, compara ao Fiat Elba de Collor. Felizmente, o retrospecto mostra que, cedo ou tarde, a força dos fatos arrebenta os diques erguidos pelos culpados para ficar impunes. | |
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sábado, agosto 20, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo Caixa 2 na eleição de Lula
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