Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 21, 2005

Editorial de A Folha de S Paulo BOAS CONTAS

 As contas externas brasileiras continuam surpreendendo com resultados muito favoráveis. Em julho, o saldo em transações correntes -soma de todos os bens e serviços negociados com o exterior- ficou positivo em US$ 2,6 bilhões, o maior resultado mensal já registrado pelo Banco Central. Nos sete primeiros meses do ano, o saldo atingiu US$ 7,9 bilhões -1,8% do PIB.
Esse resultado está associado ao bom desempenho do comércio exterior, a despeito da valorização da moeda brasileira. Os produtores domésticos aproveitam a onda de crescimento mundial, liderada pelos EUA e pela China. O dinamismo da economia global tem elevado as cotações de algumas commodities exportadas pelo país, o que amplia a receita das exportações. Além disso, a desaceleração do ritmo de crescimento doméstico reduz a demanda por matérias-primas e componentes importados. Nesse contexto, de forte crescimento externo e baixo dinamismo interno, as grandes empresas procuram diminuir a capacidade produtiva ociosa de suas plataformas de produção exportando volumes mais elevados. No ano, o saldo comercial já alcança US$ 24,7 bilhões.
A valorização da moeda brasileira, no entanto, tem ampliado as remessas de lucros e dividendos, que cresceram 66,5% entre janeiro e julho. O real mais forte e o aumento da renda aumentaram também os gastos de turistas brasileiros no exterior.
O bom desempenho do comércio externo tem permitido a queda no estoque da dívida em moeda estrangeira bem como o aumento de investimentos brasileiros no exterior. Em maio, a dívida externa de médio e longo prazo caiu para US$ 177,3 bilhões. Tanto o setor público como o setor privado estão reduzindo seu endividamento. A taxa de rolagem das dívidas de médio e longo prazo caiu para 45% em julho, abaixo da média dos sete primeiros meses de 2005, de 68%. O Tesouro antecipou a amortização de compromissos com o FMI. Com isso, as reservas internacionais brutas caíram de US$ 59,9 bilhões para US$ 54,7 bilhões.
Os superávits em transações correntes e a redução do estoque de dívida externa diminuem a vulnerabilidade do país a variações abruptas na liquidez dos mercados financeiros internacionais. Um dos principais indicadores da vulnerabilidade -a relação entre a necessidade de financiamento e o nível das reservas internacionais- caiu de 300%, em 2001, para 90% em 2005.
Esse processo deve ser persistentemente ampliado. Há amortizações programadas no valor de US$ 33,5 bilhões em 2006 e de US$ 31,3 bilhões em 2007. As autoridades deveriam ficar mais atentas à volatilidade e à excessiva valorização da taxa de câmbio. Há sinais de redução dos investimentos para exportação bem como prejuízos em alguns setores.

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