O ESTADO DE S PAULO
Marcos Valério funcionava como o trem pagador de todas as despesas do PT A situação que se desenha é, sem artifícios retóricos, a seguinte: o PT foi durante os últimos anos um partido sustentado pelo dinheiro arrecadado por beneficiário de contratos com o poder público a poder do uso de meios até agora demonstrados, no mínimo, como suspeitos. Marcos Valério Fernandes de Souza, seja ele nominado lobista, publicitário ou empresário, foi o trem pagador das despesas do PT e facilitador financeiro de vários de seus expoentes. Por intermédio dele, Silvio Pereira ganhou um Land Rover e José Dirceu pôde fazer frente ao provimento extra da pensão da ex-mulher via empréstimo bancário, facilitação de venda de imóvel e garantia de um emprego. Isso para citar as despesas miúdas, pois há outras bem mais robustas, seja do ponto de vista dos valores em si ou do significado político e/ou ético. Por ordem de entrada em cena temos a conta do escritório do advogado Aristides Junqueira (cerca de R$ 500 mil) contratado ainda em 2002 para fazer a defesa do PT no caso do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O ex-procurador-geral da República foi contratado pelo diretório do PT em São Paulo e pago pela agência de publicidade de Marcos Valério, conforme a lista de pagamentos da empresa fornecida à polícia pela diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos. Outro documento, desta vez entregue à CPI dos Correios, comprova que Valério entrou com R$ 72 mil nas despesas da festa da posse de Luiz Inácio da Silva, no primeiro de uma série de atos pelos quais o PT se exibiu convicto de que a eleição de Lula equivalia a um contrato de cessão do Estado ao partido em regime de comodato. A lista dos sacadores de milhões no Banco Rural em Brasília põe a agência de Duda Mendonça no topo, com transferência de R$ 15 milhões. Ou seja, Valério pagou também as campanhas, não sabemos se a eleitoral de Lula ou se as de publicidade institucional do governo. Para efeito de demonstração de improbidade, tanto faz. Como de resto pouco importa se Valério deu dinheiro para o PT fazer caixa 2 ou para sustentar o deslumbramento de dirigentes que, ao molde dos provincianos chegados a Brasília com Fernando Collor, nunca haviam se deparado antes com tal quantidade de tão bom melado. A destinação dos recursos é irrelevante ante a constatação de que a exuberância financeira exibida pelo PT durante os anos de 2003 e 2004 não se deveu ao fortalecimento da máquina partidária e de sua capacidade de auto-sustentação. Deveu-se, isto sim, ao fato de o partido ser teúdo e manteúdo de um sistema de arrecadação espúrio comandado por um lobista, publicitário ou empresário que, no papel de provedor, está para o PT como esteve Paulo César Farias para a Casa da Dinda. E são evidências, não suposições, que dão os contornos do cenário altamente constrangedor para um partido construído à imagem e semelhança de uma divindade ética, cujo líder máximo, não obstante os acontecimentos, ainda reivindica a condição de brasileiro síntese no quesito estatura moral. Ziguezague Uma hora o presidente diz que não quer, outra hora faz questão. Está, por enquanto, ainda obscura a verdadeira intenção de Lula a respeito da reeleição. Ontem voltou ao tema que havia abordado no dia anterior sob o prisma exatamente oposto. Terça-feira havia dito a uma de suas platéias populares que reeleição não era tão importante assim ao ponto de levá-lo a negociar "com o capeta" para obter um segundo mandato. Menos de 24 horas depois, avisou ao País que não tem esse negócio: se quiser disputar, disputa e ganha. Isso sem saber se terá partido para concorrer, dadas as providências que os advogados de defesa dos acusados no escândalo em cartaz têm tomado para anarquizar com a vida do PT. Pode ser só uma coincidência, mas Lula nos últimos dias tem conversado muito com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, com quem talvez esteja se aconselhando no tocante à escolha dos temas a serem abordados e os modos a serem adotados neste delicado momento de crise. Matriz O problema da veemência desmedida é que, não raro, sua confrontação com a realidade a transforma em bazófia. A frase do presidente Lula - "vão ter de me engolir" -, referindo-se à certeza de reeleição em 2006, remete a afirmação semelhante feita pelo então técnico da seleção brasileira de futebol, Zagallo, meses antes de o Brasil perder a Copa do Mundo na França. Em parte O delegado Luiz Flávio Zampronha informa, por intermédio da assessoria de Imprensa da Polícia Federal, que não transmitiu ao presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral, a intenção de ignorar as limitações impostas pelo Supremo Tribunal Federal à atuação da PF nas investigações do esquema Marcos Valério, conforme publicado ontem aqui. Só impõe este reparo ao texto que falava também de seu franco constrangimento com a atitude do presidente do STF, ministro Nelson Jobim.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, agosto 04, 2005
DORA KRAMER Teúdo e manteúdo
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