Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 04, 2005

CLÓVIS ROSSI Crise, humor e grandeza

FOLHA DE S PAULO

  SÃO PAULO - Memória é coisa traiçoeira. Mas, ainda assim, ouso supor que jamais houve esculhambação com um presidente da República igual à que foi ao ar anteontem, no "Casseta e Planeta".
Tudo bem que humor a favor não tem a menor graça, mas confesso que fiquei meio petrificado pelo deboche. Antes que alguém pense que estou criticando ou pedindo censura aos bravos rapazes do "Casseta", que fique claro: eles é que devem saber a dosagem de humor e esculhambação que querem usar contra quem quer que seja.
Se a dose for exagerada, o público certamente reagirá, e não consta que o tenha feito até agora.
Ao contrário do que pensa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a julgar pelas declarações de ontem em Pernambuco, a crise não nasceu do medo, suposto ou real, de seus potenciais adversários.
Nasceu, como confessa até José Dirceu, da "tragédia" do PT.
O risco para Lula, portanto, não é o de engolir ou ser engolido, mas o de ser folclorizado. Políticos rejeitados (vide, entre outros, Paulo Salim Maluf) podem, mesmo assim, conseguir longa sobrevida.
Já políticos folclorizados podem até sobreviver indefinidamente, mas serão sempre menores.
Líderes de fato revelam-se na crise. Lula, ao contrário, não consegue sobrepor-se a ela. Faz muita agitação, fala muito (e diz muito pouco, quase nada), anda de um lado para o outro, mas não mostra pulso para enfrentar o problema.
Seus discursos são erráticos, repetitivos, carregados de auto-elogios, de bravatas, de um messianismo sem Messias, portanto oco.
Sua reforma ministerial, em resposta à crise, foi pífia.
É pouco, muito pouco, para o líder de um partido que vive assumidamente a sua maior tragédia e de um governo em crise.

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