no mínimo
22.07.2005 | Persistindo na tática de eficiência e ética duvidosas de isolar o governo do PT na enxurrada de corrupção que apodrece a legenda da desbotada estrela vermelha e transborda para os aliados, com água chegando ao gogó, o presidente Lula acrescentou mais uma pérola ao seu colar de equívocos, no improviso em que, entre aplausos e apupos, divertiu a platéia que reuniu mais de mil assistentes no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFP).
Enquanto pôde, driblou o escândalo do mensalão e do caixa dois do PT que está sendo devassado pela CPI. Até que não se conteve e embalou: quando a gente fala de improviso, podemos cometer um erro e falar uma palavra imprevista". Encaixou o achado: "Mas, em se tratando de bobagem, é melhor a gente falar do que fazer".
Como parece confusa e embaralhada a cuca presidencial! Emenda uma bobagem na outra, como quem escorrega em assoalho envernizado. Na calamitosa montagem da entrevista, ao despedir-se de Paris, não apenas aderiu a uma farsa de amadores para antecipar sua adesão à manobra da dupla Delúbio-Marcos Valério de transferir para o lombo do PT a carga da tramóia de milhões para o pagamento do mensalão a petistas e aliados. Mas, oficializou, em frase untuosa, o seu omisso conformismo com o financiamento ilegal de campanha eleitoral com a dinheirama que se esgueira por baixo do pano para encher o caixa dois, com sobra para lotar 20 caixas. Arredondou a sentença categórica e definitiva: "O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito sistematicamente no Brasil."
Espantosa exposição pública do mais absoluto desconhecimento das responsabilidades e atribuições do seu cargo. De logo é uma bobagem simplória tentar separar o PT do governo. Erro primário: o PT e o governo estão no mesmo saco. PT é governo. O governo Lula é o PT.
Francamente, não é crível que o presidente não enxergue o que está diante dos olhos, não saiba que o governo, corroído na base pelo cupim da corrupção que se alastra por todos os cantos, ameaça desabar se não for sustentado por um acordo nacional ainda verde, mas que aflora nas sombrias análises dos que conservam a sensatez e não perdem o tino no torvelinho do furacão.
Antes, muitas cabeças vão rolar. O apodrecimento moral do Congresso atinge dimensões que não podem ser calculadas. A amostragem indica a evidência sabida e sempre negada da falência do modelo institucional. Os remendos propostos na reforma política são ridículos diante da proporção da calamidade. A cassação prevista de dezenas de deputados e de senadores pode chegar à casa da centena, impondo a faxina que passa por correções profundas e drásticas na Casa sob suspeita.
Não é apenas o PT o atingido no até então inconcebível envolvimento do ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha, com saques da esposa de R$ 50 mil no Banco Rural, na conta da caixinha do Delúbio: o Parlamento recebe no rosto os salpicos da podridão. Cada parlamentar na lista dos que receberam propinas é um golpe seco no decoro da Casa.
Na ponta da fila, o governo não tem como se esconder apelando para os truques e gingas de malandro. Ou o presidente Lula assume o comando do barco com rombo no casco ou terá que ser enquadrado em uma fórmula negociada para a saída da crise.
Esperar é preciso, mas não de braços cruzados. A fragilidade dos quadros petistas surpreendeu aos seus mais radicais críticos. A vassourada levantou o pó, não removeu o cisco. A oportunidade de reformar o Ministério de desempenho ruinoso foi desperdiçada pela incompetência de Lula e amesquinhada nas barganhas para tamponar os furos na base parlamentar.
Do que sobrou, pouco é aproveitável. O PT falido, com dívidas que não tem como pagar, sangrando a vergonha dos escândalos com o envolvimento de algumas de suas mais destacadas lideranças, não pode salvar ninguém: grita por socorro.
Com o sumiço do deputado José Dirceu, depois de expelido da Casa Civil, ainda não foi identificado o novo presidente em exercício. A cadeira está vaga à espera do substituto.
O tempo voa. As CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, o Conselho de Ética soterradas pelo dilúvio das denúncias, aproximam-se do fim da linha. Nada mais detêm a apuração do que as pilhas de documentos, das mais diversas origens e que continuam a chegar, já permite traçar o quadro dramático da mais extensa corrupção de toda a crônica republicana.
Ao governo, desde que desperto e presente, cabe a iniciativa de abrir o debate. Com ou sem Lula.
Na sua ausência, a responsabilidade é do Congresso, acima dos partidos, acionado pelo sentimento de salvação nacional.
Entrevista:O Estado inteligente
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