Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 23, 2005

VEJA Tales Alvarenga Dores do crescimento


"Ruiu a idéia de que o Brasil só tinha
problemas porque seu governo nunca havia
sido entregue a um imaculado partido de
pessoas puras como o PT, capaz de materializar
a utopia da salvação nacional pela ação dos
impolutos cavaleiros da vermelha figura"

A crise de credibilidade que cerca o governo e o PT não é tão feia como a pintam. Basta que se passe a avaliá-la pela perspectiva dos cidadãos brasileiros – e não mais do ponto de vista dos figurões de Brasília que estão sendo por ela demolidos. Em pouco mais de um mês, o Brasil conseguiu fazer uma devassa nas entranhas do poder e, não gostando do que viu, deu início ao que parece ser uma limpeza ética como poucas a que já assistimos. Tudo parece ruir, mas o barulho terrível que se ouve é apenas o de cabeças rolando.

Para enfrentar essa crise, cujas implicações para o governo e para o PT são alarmantes, o Brasil não precisou passar por terremotos institucionais. As crises que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas, à renúncia de Jânio Quadros e à derrubada de João Goulart e de Fernando Collor criaram momentos de enorme suspense institucional. Desta vez, não há alarme desse tipo. Ao menos até agora, o que não é pouco.

Uma coisa que ruiu no Brasil, neste mês de julho, foi a idéia de que o país só tinha problemas porque seu governo nunca havia sido entregue a um imaculado partido de pessoas puras como o PT, capaz de materializar a utopia da salvação nacional pela ação dos impolutos cavaleiros da vermelha figura. O fato de que o Brasil tenha acreditado nessa empulhação e, em conseqüência, colocado o PT à frente dos destinos do país, parece absurdo ao observador de hoje. Mas não parecia aos eleitores de 2002.

Houve um aprofundamento da autoconsciência nacional. A ilusão saiu esfrangalhada, mas nunca foi salutar viver de ilusões. Outra idéia que vem ruindo desde o início do governo é a de que o PT tinha competência técnica, política e humana para governar o país. Com exceção da área econômica, em que emprega o bom senso convencional, mas contraria as convicções da maioria dos integrantes da sigla petista, o partido salvou-se em poucas frentes do naufrágio absoluto. No leme, estavam marujos perplexos com as complexidades do poder.

O Brasil ainda é um país jovem. Em certos sentidos, como no aspecto político, somos uma nação adolescente vivendo as descobertas e as dores do crescimento. Não se sabe onde vai acabar o movimento de demolição do que há de pernicioso no governo do momento nem se pode vislumbrar o que vai sobrar do partido e da administração Lula. Como prova de amadurecimento, há o fato de que o país continua vivendo num ambiente de normalidade. As revelações de julho espantaram. Mas, ao contrário do que aconteceu em outros momentos do passado, não deixaram aquela conhecida sensação de que "este país não tem jeito". Tem jeito. E a prova é o funcionamento de seus mecanismos de autodepuração.

Com a nova experiência no terreno da desilusão, o Brasil já não estará tão frágil no futuro ao se defrontar novamente com legendas ou políticos salvadores da pátria. É de esperar que os moralistas e demagogos tenham mais dificuldade para convencer eleitores que, a cada crise, vão se tornando menos ingênuos e mais realistas. Que assim seja!

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