Eraldo Peres/AP |
Tempos sombrios
Negar-se a enxergar a espessura do problema que envolveu o governo não é uma saída para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como as dívidas não podem ser pagas contraindo-se outros débitos, também as crises não podem ser diluídas com a produção de mais sobressaltos. Lula, infelizmente, fez isso na semana passada. Ele teve o que se poderia chamar de um "momento Chávez", uma recaída populista em um presidente que é popular mas nunca teve um ato público de namoro com o abismo. Durante a cerimônia de posse do novo presidente da Petrobras, Lula deixou-se enlevar pela imagem de grandeza impoluta que cultiva de si mesmo e lançou aos brasileiros um estranho desafio: "Entre os 180 milhões de brasileiros, não há homem ou mulher que tenha moral para me dar lições de ética". Mais adiante acrescentou outro repto, dessa vez dirigido apenas à parcela da população brasileira a que ele julga não pertencer: "Sou filho de pai e mãe analfabetos. O único legado que me deixaram é andar de cabeça erguida. Não vai ser a elite brasileira que vai me fazer baixar a cabeça".
A verdade é que parte da elite brasileira está mesmo querendo obrigar Lula a baixar a cabeça. Essa parte da elite é formada por pessoas que ganham peruas Land Rover, presentes de grandes empresas com negócios com o governo (caso de Silvio Pereira, ex-secretário do PT); por pessoas que obtêm empréstimos milionários em transações subterrâneas com empresários suspeitos (caso de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT); e por pessoas que saem para ir a uma clínica neurológica mas no caminho passam em um banco e saem de lá com centenas de milhares de reais (caso da assessora de Paulo Rocha, ex-líder do PT na Câmara dos Deputados). Bem, foi-se o tempo da elite que acendia charutos com notas de 100 dólares e que, caprichosamente, fazia e desfazia governos. Para tristeza de Lula, a parte da elite brasileira que está tirando o brilho da sua biografia e a força do seu governo é formada por pessoas que forram a cueca com 100.000 dólares – um troféu de vergonha pública do PT que talvez nunca mais seja superado em grafismo e escárnio.
As reportagens que se seguem dão conta deste momento sombrio no Planalto. A primeira delas é um espantoso retrato da fragilidade do governo, que deu ao notório empresário Marcos Valério espaço para fazer uma chantagem. Ele exigiu 200 milhões de reais em troca do seu silêncio sobre desmandos que, como mostra a reportagem, ele acredita serem suficientemente fortes para derrubar o que resta do governo Lula. Outra reportagem explica de modo didático como funcionava a máquina de lavagem e esquentamento de dinheiro comandada por Valério e colocada à disposição da ávida cúpula do PT. Uma outra desmonta a tentativa de circunscrever o lamaçal petista a um único delito, o crime eleitoral – que prescreve em três anos e pelo qual ninguém cumpre pena atualmente no Brasil. Finalmente, há uma reportagem leve sobre os parlamentares que estão tocando as CPIs no Congresso. Destaque para a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), autora do melhor resumo do drama político que se desenrola em Brasília: "O problema é que o PT é o partido que quis calar a imprensa, amarrar as mãos do Ministério Público e controlar o Judiciário". Dá calafrios pensar que poderia ter conseguido.
A ESPANTOSA HISTÓRIA DE COMO VALÉRIO TENTOU CHANTAGEAR O GOVERNO
A IDÉIA DE SALVAÇÃO QUE FOI ABATIDA EM VÔO: COLOCAR TODA A CULPA EM DELÚBIO SOARES
UMA AULA SOBRE OS SUBTERRÂNEOS DOS CAIXAS DOIS E DA LAVAGEM DE DINHEIRO
LULA NÃO PODE NEM DEVE SOFRER IMPEACHMENT: ATÉ AGORA NÃO EXISTE DESLIZE LEGAL DO PRESIDENTE E ELE MANTÉM RAZOÁVEL APOIO POLÍTICO E POPULAR
O BRASIL ESTA MADURO. A CRISE SE DESENROLA SEM IMPACTO NEGATIVO NAS INSTITUIÇÕES
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