"Lula foi eleito com a promessa de combater a
desigualdade. O que o salva agora é justamente
a desigualdade educacional e territorial do Brasil"
O brasileiro é idiota?
Foi o que muita gente se perguntou depois de ler a última pesquisa do Ibope, publicada na terça-feira. A impressão que se tem é que o eleitorado não liga para a roubalheira lulista. Delúbio Soares pode distribuir propina aos parlamentares. Silvio Pereira pode ganhar Land Rovers de fornecedores da Petrobras. Henrique Pizzolato pode receber pacotes de dinheiro no Banco Rural. Marcelo Sereno pode comprar apartamentos de 700.000 reais. João Paulo Cunha pode sacar das contas de Marcos Valério. O filho de Lula, Fábio Luís, pode vender produtoras de fundo de quintal a concessionárias públicas, por preços exorbitantes. Não importa. Por mais descarada que seja a roubalheira lulista, a popularidade do presidente não parece ser afetada. Nas simulações de voto, ele ganha com folga de todos os adversários. A maioria absoluta da população confia nele. O dado mais importante numa campanha para a reeleição é a taxa de aprovação do presidente em exercício. A diferença entre os que aprovam e desaprovam o desempenho de Lula, segundo o Ibope, continua surpreendentemente alta.
Aprovam: 54%
Desaprovam: 38%
Márcia Cavallari me ajudou a interpretar os fatos. Ela é diretora do Ibope. Pedi-lhe que cruzasse alguns números. O resultado é o contrário do que se imagina. Para avaliar o efeito da roubalheira sobre a popularidade de Lula, é fundamental dividir o eleitorado em dois grupos: os que conhecem e os que não conhecem as denúncias de corrupção. Do total de entrevistados pelo Ibope, 28% simplesmente não tomaram conhecimento das acusações contra o governo. Entre eles, a taxa de aprovação de Lula é a seguinte:
Aprovam: 61%
Desaprovam: 27%
Entre os 72% que estão informados sobre os casos de corrupção lulista, mesmo que de maneira superficial, a taxa de aprovação do presidente é dramaticamente menor:
Aprovam: 51%
Desaprovam: 43%
A diferença entre um grupo e outro é de 26 pontos porcentuais. Esses dados desmontam a tese governista – aceita pela oposição e pela imprensa – de que Lula está blindado contra a crise. Não há blindagem. Quando o eleitor toma conhecimento da corrupção no governo, rejeita Lula. Quanto mais informação ele tem, maior é a rejeição. A popularidade de Lula não resistiria a uma campanha eleitoral, em que a roubalheira seria lembrada o tempo todo.
O pior para Lula é o perfil daqueles 28% que ainda não ouviram falar em corrupção no governo, e continuam a apoiá-lo maciçamente. 56% estudaram até a 4ª série. Outros 25% abandonaram a escola entre a 5ª e a 8ª série. 74% moram no interior do país. Lula foi eleito com a promessa de combater a desigualdade. O que o salva agora é justamente a desigualdade educacional e territorial do Brasil. A informação pode levar mais tempo para chegar a essa gente. Só que, mais dia, menos dia, ela chega.
Lula acabou. Lula morreu. Ele ainda não sabe disso. Ninguém o avisou. Faço questão de ser o primeiro a dar-lhe a notícia. Má notícia é comigo mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário