Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 16, 2005

VEJA Saque liga diretor do BB à DNA de Marcos Valério

A caixinha do diretor do BB

Saque de 326 000 reais liga Henrique
Pizzolato à DNA de Marcos Valério


Lucila Soares


Joedson Alves/AE
UMA COMPRA MUITO ESTRANHA
Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil: ele comprou um apartamento de 400 000 reais menos de um mês depois de ter sido efetuado o saque de 326 000 reais da conta da DNA. Coincidentemente, na assinatura da escritura só pagou 300 000 reais, porque não tinha o resto

Na manhã da última sexta-feira, na sede da Previ, o poderoso fundo de pensão do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, fechou-se mais um elo da corrente que liga integrantes do governo federal ao publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. Diante de um grupo de auditores da Previ, o contínuo Luiz Eduardo Ferreira da Silva confirmou ter sacado em janeiro 326.660,67 reais da conta da DNA Propaganda (que pertence a Valério) numa agência do Banco Rural. A informação ratificada pelo contínuo Silva, de 40 anos, consta de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Silva aparece ao lado de outros treze nomes responsáveis por saques de 20,9 milhões de reais em dinheiro nas contas da DNA e da SMPB, outra agência de que Valério é sócio. No depoimento, o contínuo informou que entregou o pacote de dinheiro que trouxe do banco a ninguém menos que o presidente do conselho deliberativo da Previ e diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, a quem prestava serviços particulares e de quem ganhou ajuda para comprar uma casa em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. Disse que não teve de ir ao caixa. Apenas assinou um recibo e retirou um pacote fechado. Em seguida, relatou, foi até o apartamento de Pizzolato para entregar-lhe o dinheiro. Acrescentou que um motorista da confiança de Pizzolato o acompanhou nesse vaivém. A transcrição da fita gravada com seu depoimento, realizado por determinação do presidente da fundação, Sérgio Rosa, foi encaminhada à direção do Banco do Brasil e à CPI dos Correios na própria sexta-feira.


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Embora o cenário e os atores envolvidos sejam ligados ao fundo, não é a Previ o epicentro desse novo terremoto. Pizzolato protagoniza o enredo no papel de diretor de marketing e comunicação do Banco do Brasil. Foi nessa condição – da qual coincidentemente se desligou ao pedir aposentadoria menos de 24 horas antes do depoimento do contínuo – que Pizzolato construiu o que é, até o momento, a mais clara evidência da promíscua relação entre um ocupante de cargo de confiança do governo federal e o empresário do ramo de publicidade mineiro. A história que se delineou na sexta-feira mostra o homem que comandava uma das maiores verbas de publicidade do país – 262 milhões de reais em 2004 e previsão de 140 milhões de reais neste ano – mandando sacar mais de 326.000 reais de uma conta da DNA, uma das três agências vencedoras da licitação realizada pelo Banco do Brasil em setembro de 2003. Numa palavra, recebia dinheiro do próprio fornecedor de serviços ao governo.

Pizzolato, que também foi afastado do conselho deliberativo da Previ, já protagonizara cena explícita de promiscuidade à frente da diretoria de marketing do BB. Em julho do ano passado, liberou 73.000 reais para a compra de ingressos de uma apresentação da dupla Zezé Di Camargo & Luciano. O show tinha por objetivo angariar fundos para a construção de uma nova sede para o PT e reuniu a fina flor petista e de seus aliados numa churrascaria em Brasília. Desta vez, há uma forte evidência de que sua intenção era angariar fundos para si próprio. O jornal Correio Braziliense publicou, em sua edição de sexta-feira, reportagem mostrando que, pouco mais de um mês depois da operação bancária relatada pelo contínuo Silva, ele comprara um apartamento de 160 metros quadrados no Rio, a uma quadra da Praia de Copacabana, no valor de 400.000 reais. O saque foi realizado em 15 de janeiro. A compra do apartamento, em 20 de fevereiro. Também coincidentemente, o ex-diretor do BB só pagou 300.000 reais no ato da assinatura, porque não tinha o resto. O saldo teria sido pago, segundo Pizzolato, com o resultado da venda de um terreno no Paraná.


Fotos Ailton de Freitas/Ag. O Globo
PROMISCUIDADE
Show sertanejo para o PT que quase foi pago pelo BB (acima) e petistas e aliados, na mesma noite

Militante do PT há mais de vinte anos, Pizzolato tem 52 anos de idade e 31 de carreira no BB. Integra a poderosa ala de sindicalistas do partido. Nos anos 80, foi presidente do Sindicato dos Bancários do município paranaense de Toledo e da CUT estadual. Foi no movimento sindical que se aproximou de Luiz Gushiken, o atual secretário de Comunicação e Gestão Estratégica. Com ele chegou a dividir um apartamento em Brasília, nos tempos em que Gushiken era deputado federal. Nas eleições passadas, trabalhou com o insuspeito ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares na captação de recursos para a campanha de Lula. Com a vitória do PT, esperava ser recompensado com a presidência do BB (que perdeu para Cássio Casseb, indicado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci) ou da Previ (em que foi preterido pelo próprio Gushiken, que escolheu Sérgio Rosa). Mas não tinha muito do que se queixar. Além de acumular dois cargos bem pagos, ainda ganhava um extra como membro do conselho da Embraer – nomeado pela Previ. E não fazia cerimônia em usar o cartão de crédito corporativo da fundação para gastos pessoais, que iam de compras de guloseimas finas a visitas a sites pornôs. O extrato de junho de seu cartão Ourocard, por exemplo, apresenta cinco registros de sites desse tipo: do UOL, iG, Terra, MHP e RA Net.

Ag. ABR
AMIZADE ANTIGA
O secretário Luiz Gushiken: apoio a Pizzolato na Previ e no BB


A proximidade com Gushiken tornou-o homem forte no banco. Quando estava na presidência do BB, Cássio Casseb tentou demiti-lo, mas não conseguiu. Todo esse apoio não resultou em nenhuma gratidão. Nos últimos meses, Pizzolato afastou-se do secretário e passou a trabalhar pelos interesses do banqueiro Daniel Dantas em sua feroz briga contra os fundos de pensão, notadamente a Previ. Talvez esse tenha sido um motivo a mais – pelo menos aquele cuja natureza pode ser dita de maneira menos vergonhosa – para tornar insustentável sua permanência no governo.

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