folha de s paulo
Tenho o hábito de procurar um paralelo entre lições da história e acontecimentos contemporâneos com os quais mantenho ligações profissionais. Aprendi que o passado é uma fonte inesgotável de sabedoria e um instrumento eficiente de navegação no nosso dia-a-dia. Por isso reservo uma parcela de meu tempo para ler ou assistir a vídeos sobre acontecimentos que já caíram no esquecimento.
Foi assim que mergulhei em uma série de DVDs sobre a Primeira Guerra Mundial. Esse exercício rendeu os frutos esperados. Encontrei no comportamento do estado-maior do Exército americano, que lutava com seus aliados europeus contra a Alemanha, um paralelo com os estrategistas do Banco Central brasileiro em sua luta contra a inflação.
Antes que o leitor me abandone, alegando uma certa insanidade mental nesta minha luta particular contra a ortodoxia sem qualificação que comanda as ações do Copom, explico esse meu paralelo. Os historiadores ressaltam a terrível perda de vidas humanas ocorrida por culpa de generais e coronéis e seus planos de batalhas que não levavam em consideração o objetivo de reduzir o número de mortos e feridos de seus exércitos. Apenas a vitória final importava, e restrições de natureza humanas não eram consideradas em suas ações.
Em fins de 1918, o alto comando do Exército americano resolveu romper com seus sisudos colegas de armas, franceses e ingleses, e traçar um plano estratégico próprio para as últimas batalhas de uma guerra que já chegava a seu final. Foi o que aconteceu na decisiva batalha de Argonne. Sob o escárnio dos generais europeus, o general Pershing optou por um plano de batalha mais longo do que o sugerido por seus aliados, mas com perdas de vida 50% menores. Pela primeira vez, naquela longa guerra, o custo social era levado em conta na busca de um objetivo militar.
Nesse ponto, está o paralelo entre esses acontecimentos longínquos e a política monetária do Banco Central do Brasil. Seguindo o caminho dos generais franceses, nossos diligentes membros do Copom adotaram um plano de atingir um objetivo -a meta de inflação de 5,1% para 2005- sem considerar os custos associados a essa decisão. Alegando que sua responsabilidade é apenas a de cumprir a meta estabelecida -por eles mesmos, diga-se de passagem-, e não de contar mortos e feridos como o custo da dívida pública, taxa de câmbio valorizada e perda de crescimento econômico, seguiram em frente com seu plano original. E, por isso, estão eufóricos e agressivos comemorando a deflação dos últimos meses e a possibilidade de chegar perto da meta.
Como os generais franceses, eles acusam, aqueles que defendem a tese de que é sua responsabilidade desenhar um plano de batalha que leve em consideração a minimização do nível de perdas para a sociedade, de lenientes com os inimigos da pátria. No caso do Brasil de hoje, essa rota alternativa corresponderia a um número menos ambicioso para 2005, deixando a convergência da inflação para a meta de 4,5% para o próximo ano.
Aliás, essa é a cultura do banco central mais respeitado no mundo, o Federal Reserve americano. Nos Estados Unidos, a diretoria do Fed é obrigada a levar em consideração os mortos no campo de batalha da estabilidade de preços em suas prestações de conta ao Congresso. Afinal, isso está estabelecido nos estatutos do Fed e é cobrado pela sociedade. Não existe a situação de vitória a qualquer preço.
Não tenho dúvida de que precisaremos definir, de maneira clara, essa responsabilidade com os custos da política monetária quando for revisto o sistema de metas de inflação no Brasil.
Ao rever esses acontecimentos distantes, tenho a satisfação íntima de me ver no papel do general Pershing, comandante supremo do Exército americano na Europa, em sua batalha pessoal contra os comandantes franceses e ingleses. Ele comprovou ser possível definir um plano de batalha eficiente e vitorioso sem perder de vista a busca de custos sociais menores
Entrevista:O Estado inteligente
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