Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 14, 2005

Nervosismo com a crise é só no Brasil Alberto Tamer

O Estado de S Paulo

"Ao contrário do que sempre acontece, a crise política está provocando maior nervosismo no Brasil do que no mercado financeiro mundial. Lá, não sentimos essa tensão que domina há dias o mercado local." Essa observação, feita à coluna por um economista brasileiro que trabalha num grande banco internacional, coincide com uma fonte do mesmo nível, de Londres. Liberados de darem seus nomes, eles são mais francos, diretos e até críticos. As fontes confiam no colunista que, por sua vez, espera a confiança do leitor. Todos saem favorecidos.

O economista brasileiro observa que há um fato novo na crise política do País. Ninguém sabe quando e onde vai parar. "É difícil conviver com o ruído político. A cada dia ou fim de semana o investidor é obrigado a digerir novas denúncias", diz ele. Mesmo assim, ambos, o economista de São Paulo e o da City, concordam com o que todos afirmam: se o presidente e o ministro da Fazenda não forem atingidos, tudo bem.

"Sabe, nesta situação a performance da economia está salvando o governo. Eu diria que poucas vezes, ou nenhuma vez, os indicadores econômicos foram tão positivos."

Para ele, o Brasil está mais preparado para enfrentar crises internas e externas, mantendo um bom nível de reservas, US$ 50 bilhões, embora o crescimento econômico esteja sendo menor. Ele e seu banco trabalham com um crescimento de 3,2% até o fim do ano, quase todo concentrado no segundo semestre, e de 3,6% em 2006. No fundo, o investidor teme mais o "fogo amigo" do que o "fogo" do mercado externo.

E, neste ponto, entra a segunda fonte, o economista de outro grande banco, City de Londres. "Aqui, o mercado continua ignorando a crise política", diz ele. Quais são os sinais para fundamentar essa afirmação?, pergunto. "Todos os papéis brasileiros estão em alta. Há mais demanda do que oferta. E há até rumores de que a CSN reabriria a operação em que captou US$ 250 milhões em pleno dia em que as bombas estouravam aqui, na City." Não perco a oportunidade de fazer um confronto entre as bombas de Londres e a crise política no Brasil.

"O mercado ignorou os dois acontecimentos. Tanto que há pelo menos mais três lançamentos de menor valor que estão sendo feitos em Londres."

Por que o nervosismo aqui e não lá? As duas fontes têm a mesma explicação. Os investidores externos acham que o governo sairá da crise porque a equipe econômica tem feito um bom trabalho, tem credibilidade externa, enquanto os locais vêem mais as evoluções políticas. Dão menor peso aos fundamentos econômicos.

CENÁRIO EXTERNO FAVORECE

O economista da City aponta os resultados do crescimento dos EUA como um fator que ajuda o Brasil. A economia americana ganha mais fôlego à medida que o ano vai correndo, o que desativa tensões sobre o mercado financeiro internacional, onde o Brasil refinancia sua dívida externa. Isso pesa muito, diz ele. Ainda ontem, o economista-chefe da Casa Branca, Ben Bernanke, candidato à sucessão de Greenspan, reforçou a impressão do mercado que tudo vai bem com a economia americana. As duas grandes novidades que ele apresenta nesta primeira fala após assumir o novo cargo de chefe da equipe de economistas da Casa Branca são:

1 - O governo prevê agora um crescimento de 3,4% neste ano, a inflação está sob controle e aumenta o nível de criação de empregos.

2 - O déficit fiscal do governo estimado em US$ 437 bilhões está recuando e deve fechar o ano fiscal, em setembro, em US$ 350 bilhões. Por quê?

"Com o crescimento econômico a arrecadação vem aumentando também. Por isso reduzimos a previsão do déficit fiscal." Ou seja, parece que a economia americana volta a repetir o que houve nos oito anos do governo Clinton. Mais crescimento, mais empregos, mais arrecadação. E assim fecha o círculo.

No governo Clinton eram criados mais de 200 mil empregos por mês. Foram 11 milhões em oito anos! Isso não se manteve no primeiro mandato de Bush, mas está acontecendo agora. Deve-se considerar também que, ao contrário de Clinton, o atual vem gastando mais de US$ 80 bilhões em armamento e defesa. Paradoxalmente, a guerra e o terrorismo estão ajudando a economia.

Outro fator importante para atenuar a tensão em torno do déficit comercial é que as exportações americanas estão crescendo e, em maio, recuaram 2,7%. Mesmo assim, o governo continua trabalhando com a hipótese de um déficit comercial de US$ 681 bilhões para este ano.

CENÁRIO FAVORECE O PAÍS

Neste cenário de bombas terroristas de efeito limitado no mercado financeiro, um crescimento de 3,4% do PIB americano, de US$ 11 trilhões, e redução do déficit externo, mesmo que seja pequena e ainda insuficiente, provocam menos danos na economia brasileira que poderiam causar digamos, dois anos atrás, quando da mudança de governo. Resumindo, o cenário externo é bom para o Brasil. Há liquidez e muito dinheiro para captar.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog