o globo
As avaliações sobre a saúde da economia são positivas diante das circunstâncias. Não é que a economia vá bem, é que ela poderia ir muito mal pelo efeito do choque de juros, do choque internacional de petróleo e da tumultuada crise política. Não entrou em recessão e há bons indicadores financeiros, mas as projeções foram piorando ao longo dos meses e os investimentos, murchando.
A sondagem conjuntural da FGV divulgada esta semana mostrou "as piores avaliações sobre a situação presente em dois anos e com previsões menos favoráveis para os próximos meses". Pessimismo de empresário vira engavetamento do projeto de investimento que vira menos crescimento futuro. Não é trivial o dado que foi divulgado pela Fundação Getúlio Vargas. A CNI, no seu Informe Conjuntural, reduziu de 4% para 3,2% a perspectiva de crescimento. A Confederação das Indústrias, no começo do ano, acreditava que o investimento cresceria 8,5% e agora acha que vai crescer só 4%.
Na pesquisa da FGV, a diferença entre os que têm uma visão boa da economia e os que têm uma visão desfavorável é negativa em 17 pontos percentuais. Aumentou o número dos que acham que a demanda está fraca e dos que acham que há estoques excessivos. A sondagem conjuntural da FGV é uma pesquisa tradicional da economia brasileira. Ao todo, para essa 156 sondagem, foram ouvidas 462 empresas. Das empresas consultadas, 16% pretendem contratar novos empregados e 20% pretendem demitir.
"Diante do quadro de desaquecimento que beira a estagnação produtiva, as expectativas dos empresários industriais para os próximos meses também pioraram", diz o texto divulgado pela FGV. A CNI também disse que teme piora no quadro atual. Admite que foram criados empregos nos últimos 12 meses na economia em geral e na indústria em particular, mas em números bem menores que os 130 mil empregos por mês de que o presidente Lula falou.
As previsões de crescimento econômico feitas pelas instituições semanalmente ouvidas pelo Banco Central mostram claramente um arrefecimento. Imaginava-se, na média, um crescimento de 3,7% por ano, agora começa a ficar abaixo de 3%.
A exportação continua batendo recordes e isso mantém um pouco do ritmo da economia. O economista Roberto Padovani, da Tendências, acredita que o que se passa hoje é um descompasso entre as diferentes indústrias.
— Minha suspeita é de que existem setores com comportamento bastante diferenciado na economia. Bens duráveis cresceram bem, mas os não-duráveis cresceram menos e há setores que estão sangrando! — afirma.
Vão bem automóveis, eletrodomésticos linha branca (geladeira, fogão) e commodities, como minério de ferro e algumas agrícolas. Vivem momentos difíceis os setores têxtil, petroquímico, de móveis e o de calçados. Neste último, já houve a demissão de 11 mil pessoas e ainda não se vislumbram melhores momentos. No setor moveleiro, uma estatística parcial mostra que, no Rio Grande do Sul, já foram demitidas 800 pessoas.
— O mercado interno está recessivo e ainda convivemos com a insegurança política que faz com que as pessoas adiem suas compras. Não temos números fechados, mas neste primeiro semestre houve uma queda nas vendas. Quanto ao mercado externo, estamos cumprindo os contratos, mas eles já estão terminando e estamos com dificuldades de renová-los — contou Attilio Troes, presidente da Movergs, associação do setor.
Os têxteis estão crescendo, mas menos do que se esperava; em maio, este crescimento era de 1,93% na produção. Nas exportações, crescem também, com o mercado exterior apresentando melhores taxas que o interno. Um setor que vive o meio do caminho é o de vidros. Se, por um lado, atende aos bens não-duráveis, nas embalagens; por outro, também vende para automóveis e eletrodomésticos da linha marrom. Assim sendo, sente um pouco das duas realidades.
— Na venda para embalagens, estamos andando de lado. Nem cervejas nem refrigerantes aumentaram ainda as suas compras. Nas utilidades domésticas, estamos sofrendo com a concorrência brutal da China e também não estamos bem nos vidros para a construção civil, que eram a nossa grande expectativa para este ano. Nos automóveis, sim, vai tudo muito bem — avalia Lucien Belmonte, da Abividro.
Os números da Anfavea mostram que ele está certíssimo. Até junho, o crescimento das vendas de veículos no mercado interno foi de 11% sendo que o carro flexfluel correspondeu a 52% dos carros novos vendidos. As exportações tiveram resultado ainda mais surpreendente: um incremento de 37%. O único item que não vai bem é a venda de tratores no mercado interno que caiu 34% com a crise da lavoura este ano.
Esse era para ser o melhor ano do governo Lula; 2005 começou embalado pelo crescimento de 2004 e o mundo continuava jogando a favor. Mas a alta da inflação, o choque dos juros e agora a devastadora crise política estão piorando o ambiente econômico. O mercado financeiro caiu na sexta-feira, mas continua muito bem diante das circunstâncias. Engana-se quem pensa que isso é prova de que a economia não está sendo afetada. Na verdade, o pessimismo tem crescido e já perdemos parte das chances deste ano.
Entrevista:O Estado inteligente
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