o globo
A crise vai se aprofundar nas próximas semanas. Na semana passada, os governistas acreditaram numa miragem: a de que tudo estava resolvido porque o presidente Lula não teve queda de popularidade na pesquisa CNT-Sensus. A pesquisa trouxe algumas más notícias para os governistas, mas eles se agarraram em um número. Isso pautou uma mudança de atitude, mais agressiva. Novas pesquisas podem trazer resultados diferentes. De qualquer modo, é cedo para se saber o desfecho da pior crise que o Brasil vive desde a redemocratização.
Na crise do Collor, que até agora detinha esse triste campeonato, foram se formando correntes de defesa da governabilidade, inclusive dentro do governo. O problema era mais localizado. Desta vez, as denúncias de corrupção e outras ilegalidades e transações duvidosas se espalham e o governo permanece não tendo estratégia de defesa eficiente. Na CPI, os petistas continuam mostrando muito músculo e pouco cérebro. A reforma do Ministério, com poucas exceções, não trouxe novidades que mudem a qualidade da conjuntura política. Ela segue ao sabor dos acontecimentos espetaculares que aparecem a cada dia.
Até agora, o que se viu é estarrecedor. A soma de irregularidades é enorme. Cada uma em si é um escândalo à parte. O uso do Palácio do Planalto pelo então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, como local para distribuir cargos públicos aos partidos da base é uma completa anomalia e foi confirmado, segundo conta a imprensa, pelo ex-presidente do PT José Genoino. Parece um escandalozinho pelo vulto das outras notícias que circulam, mas é um sinal claríssimo de que o PT nunca separou governo de partido.
A briga da Abin com o Gabinete de Segurança Institucional é inacreditável em cada detalhe. O agente Edgard Lange disse que o ministro Jorge Felix mandou parar a investigação de corrupção nos Correios quando chegou na diretoria comandada por um petista. Isso caracteriza uso do Estado em favor de um partido. Desse material foi feito o Watergate. O que incomodou o ex-chefe da Abin, demitido, foi que a CPI interrogou um agente, o que seria, na visão dele, uma ilegalidade. Nesse serviço opaco, no qual jamais a democracia fez uma boa limpeza, trabalham 1.700 agentes fazendo sabe-se lá o quê. Para se ter uma idéia, o Coaf, cujos esmero, dedicação e capacidade de trabalho o Brasil tem visto com freqüência, tem apenas 31 pessoas, nenhuma delas araponga. Elas usam a inteligência e cruzam dados atrás de informações que protejam o país do crime de lavagem de dinheiro. Já o SNI, perdão, a Abin, o pouco que se soube do seu trabalho pode ser descrito como espionagem seletiva, que poupa os amigos.
A Polícia Federal foi para a berlinda pela Operação Narciso. Ela não foi feita porque o luxo é criminoso, mas porque, como diz o Ministério Público, há na empresa indícios de contrabando e sonegação. Luxo não é crime; sonegação é. Portanto, a PF está sendo atacada pela oposição e por vários formadores de opinião pelo motivo errado. Se ela nada provar contra os donos da Daslu, terá que enfrentar, então, um exército de defensores da empresária. Mas a Polícia Federal peca é em não ter o mesmo rigor preventivo em relação aos integrantes do escândalo PT-Marcos Valério. Foi a Polícia Civil de Minas Gerais que apreendeu 12 caixas de documentos e comprovou que outros haviam sido queimados, e ainda se deparou com um inesperado armamento pesado. Documentos podem ter sido perdidos, ocultados, incinerados porque o tempo, como bem sabe a Polícia Federal, trabalhou a favor dos suspeitos nesse caso.
Se não houvesse nenhum desses escândalos na imprensa, apenas o da Gamecorp já seria suficiente. De novo, o governo erra. O presidente demonstra, nos seus desabafos, que entende as reportagens sobre a estranha operação entre a Telemar e a empresa do filho dele como sendo intervenção em assuntos privados. Não há invasão de assunto privado, mas uma dúvida razoável sobre um negócio que foge completamente dos padrões do mundo dos negócios. Piora tudo o fato de ser uma empresa concessionária de serviço público, de capital aberto e que tem entre seus acionistas o BNDES e fundos de pensão de estatais.
Vamos aos números e fatos: o faturamento total das 55 empresas de game do Brasil é de R$ 18 milhões e a Telemar decidiu investir R$ 5 milhões em uma empresa desconhecida. A associação que representa o setor não conhece a Gamecorp, a empresa, apesar de estar no setor de tecnologia, não tem sequer um site. Tudo o que os sócios Lula da Silva e Bittar vão investir no negócio, quando concluírem a integralização do capital, é 4% do que a Telemar investiu para ter apenas 35% do capital. A Trevisan, que fez a consultoria da operação, disse inicialmente que a Telemar não sabia quem era o sócio — comparou o filho do presidente a um príncipe que se veste de plebeu para não ser reconhecido — para depois admitir que a empresa sempre soube que o príncipe era príncipe. Histórias da carochinha não são críveis para quem tem mais de 10 anos.
Há tanto escândalo paralelo na crise atual que — mesmo se o sistema de compra de votos de parlamentares governistas, por um milagre, se provar inexistente — já há material para se discutir severamente os critérios, usos e costumes do governo do presidente Lula.
Entrevista:O Estado inteligente
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