o globo
O deputado petista Mauricio Rands definiu ontem como uma "disputa política" a insistência de deputados da oposição em quebrar o sigilo bancário e telefônico dos ex-dirigentes do PT Delúbio Soares e Silvio Pereira, do presidente do partido, José Genoino, e do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Como se eles não tivessem nada a ver com as denúncias que estão sendo investigadas na CPI mista dos Correios. O presidente do PT, José Genoino, já havia se referido a essa "disputa política" em diversas ocasiões, dando a senha de como o PT quer que as investigações sejam vistas pela opinião pública.
Uma manobra política da oposição, e não uma investigação sobre uma rede de corrupção que se instalou nos órgãos públicos e possivelmente financiou o suborno em massa de congressistas. O PT age assim por que, nesse momento de crise institucional, está tendo uma recaída no estilo de fazer política a que se acostumou na oposição por mais de 20 anos.
Só chegou ao poder com uma proposta de coalizão partidária, dando fim aparente a um longo processo no qual passou a maior parte do tempo assumindo posições por ideologia. A quem, por exemplo, questionava a súbita mudança petista a favor da reforma da Previdência, assumindo posições até mais radicais do que as que combatia em governos anteriores, a explicação era curta e grossa: "estávamos em uma disputa política".
Os partidos políticos que não têm as raízes revolucionárias do PT estão acostumados ao jogo democrático "burguês", sempre denunciado pelos petistas como arranjo político para manter tudo no mesmo lugar, sem as mudanças que viriam quando o PT chegasse ao poder.
Por isso, o PT recusou o apoio do PMDB de Ulysses Guimarães no segundo turno das eleições presidenciais de 1989 contra Collor, e Lula perdeu a eleição por uma margem próxima à votação que o PMDB obtivera no primeiro turno. Posteriormente, se recusou a participar de governos democráticos e de transição como o de Itamar Franco, após o impeachment de Collor.
São erros pelos quais a direção petista se penitencia hoje, e o tempo fez com que a maioria do partido entendesse a importância de uma coalizão para, no caso petista, não apenas para vencer as eleições, mas, sobretudo, para governar. Mas a coalizão partidária não é uma opção fácil.
Napoleão cunhou uma frase que pode explicar perfeitamente o sentimento petista: "Prefiro lutar contra uma coalizão a liderar uma coalizão". Uma definição mais rastaqüera foi dada pelo deputado Roberto Jefferson para explicar o mensalão que o PT teria disseminado pelo Congresso: é mais fácil contratar mercenários do que dividir o poder.
Por não ser de seu instinto, a capacidade de negociação petista fica bastante reduzida diante de uma crise desse tamanho, e o que se vê hoje na CPI mista dos Correios é uma tentativa às vezes patética de desqualificar as testemunhas que podem piorar a situação do governo, e uma defesa intransigente de figuras como o lobista Marcos Valério.
Como registrei aqui na coluna de ontem, só o deputado Roberto Jefferson não foi enfrentado com valentia pelos petistas, que não apareceram na Comissão de Ética e foram bastante benevolentes na CPI dos Correios.
O deputado petista do Rio Jorge Bittar, citado por mim como tendo sido bastante cordial com Roberto Jefferson, e que ontem tentou evitar a quebra de sigilos dos petistas, enviou-me carta na qual diz que três características marcam o seu caráter e sua atuação na vida pública: "a retidão, a objetividade e a cordialidade".
Ele diz que não se sentiu "pessoalmente ameaçado nem com o conteúdo, nem com o tom, nem com a dramaturgia exercida pelo senhor Roberto Jefferson na sessão da CPMI". Segundo ele, "não será uma simples repulsa emocional às insinuações e acusações de Roberto Jefferson que fará a verdade aparecer. Ao contrário, será o trabalho sério, consistente e perseverante dos membros da CPMI que separará o joio do trigo".
Com relação à campanha eleitoral de 2004 no município do Rio de Janeiro, Bittar garante que Roberto Jefferson "nada tem a revelar que possa me intimidar". Como já dissera na CPI, garante que o acordo feito com o PTB "foi estritamente político e teve como finalidade apenas aumentar o tempo do PT no horário eleitoral gratuito. A contrapartida para o PTB foi a formação da aliança proporcional".
Dizendo que sua prestação de contas foi apresentada dentro do prazo legal e está disponível no site do TSE na Internet, o deputado Jorge Bittar garante que continuará sendo cordial com todos, "até mesmo com aqueles cujas ações me cabe investigar por obrigação como membro da CPMI".
Ontem mesmo ele teve oportunidade de exercer sua "cordialidade" na argüição de Karina Somaggio, ex-secretária do lobista Marcos Valério, e no entanto não foi tão elegante quanto se declarou, a ponto de ter provocado uma reação da deputado juíza Denise Frossard.
Tentou desqualificar a ex-secretária, cobrou-lhe uma impossível demonstração de grandeza ao perguntar por que não pedira demissão de uma empresa onde via tantas irregularidades. Candidamente, a secretária lembrou ao deputado que a vida está difícil e que não poderia pedir demissão sem ter um outro emprego que lhe pagasse os mesmos R$ 2 mil por mês. Bittar, então, foi cruel. Disse que a secretária vendera sua honra por R$ 2 mil.
Para justificar sua atitude, Bittar lembrou que Marcos Valério havia sido duramente atacado por oposicionistas no dia anterior. Como bem lembrou o senador Pedro Simon, o PT, que já foi o defensor das secretárias e dos motoristas das CPIs, mudou tristemente de posição.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
julho
(532)
- Do foguetório ao velório Por Reinaldo Azevedo
- FHC diz que Lula virou a casaca
- DORA KRAMER A prateleira do pefelê
- Alberto Tamer Alca nunca existiu nem vai existir
- Editorial de O Estado de S Paulo Ética do compadrio
- LUÍS NASSIF A conta de R$ 3.000
- As elites e a sonegação JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
- Lula se tornou menor que a crise, diz Serra
- JANIO DE FREITAS A crise das ambições
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Responsabilidade e amor ...
- ELIANE CANTANHÊDE É hora de racionalidade
- CLÓVIS ROSSI Não é que era verdade?
- Editorial de A Folha de S Paulo DESENCANTO POLÍTICO
- FERREIRA GULLAR:Qual o desfecho?
- Editorial de O Globo Lição para o PT
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Não é por aí
- Miriam Leitão :Hora de explicar
- Merval Pereira Última instância e O imponderável
- AUGUSTO NUNES :A animada turnê do candidato
- Corrupção incessante atormenta a América Latina po...
- Blog Noblat Para administrar uma fortuna
- Diogo Mainardi Quero derrubar Lula
- Tales Alvarenga Erro tático
- Roberto Pompeu de Toledo Leoa de um lado, gata dis...
- Claudio de Moura Castro Educação baseada em evidência
- Dirceu volta para o centro da crise da Veja
- Ajudante de Dirceu estava autorizado a sacar no Ru...
- Até agora, só Roberto Jefferson disse a verdade VEJA
- O isolamento do presidente VEJA
- VEJA A crise incomoda, mas a economia está forte
- veja Novas suspeitas sobre Delúbio Soares
- VEJA -A Petrobras mentiu
- Editorial de O Estado de S Paulo A conspiração dos...
- DORA KRAMER O não dito pelo mal dito
- FERNANDO GABEIRA Notas de um pianista no Titanic
- Economia vulnerável GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES O acordão
- CLÓVIS ROSSI A pizza é inevitável
- Editorial de A Folha de S Paulo A SUPER-RECEITA
- Editorial de A Folha de S Paulo O PARTIDO DA ECONOMIA
- Zuenir Ventura O risco do cambalacho
- Miriam Leitão :Blindada ou não?
- A ordem é cobrar os cobradores
- Mas, apesar disso, o PSDB e o PFL continuam queren...
- Em defesa do PT Cesar Maia, O Globo
- Senhor presidente João Mellão Neto
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Novo fiasco dipl...
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Erros', fatos e ...
- DORA KRAMER Um leve aroma de orégano no ar
- Lucia Hippolito :À espera do depoimento de José Di...
- LUÍS NASSIF Uma máquina de instabilidade
- ELIANE CANTANHÊDE Metralhadora giratória
- CLÓVIS ROSSI Socorro, Cherie
- Editorial de A Folha de S Paulo SINAIS DE "ACORDÃO"
- Editorial do JB Desculpas necessárias
- Villas-Bôas Corrêa A ladainha dos servidores da pá...
- Editorial de O Globo Acordo do bem
- Miriam Leitão :Apesar da crise
- Luiz Garcia A CPI e os bons modos
- Merval Pereira Torre de Babel
- DILEMA PETISTA por Denis Rosenfield
- Ricardo A. Setti Crise mostra o quanto Lula se ape...
- Um brasileiro com quem Lula preferiu não discutir ...
- Editorial de O Estado de S Paulo Do caixa 2 ao men...
- Que PT é esse? Orlando Fantazzini
- Alberto Tamer China se embaralha para dizer não
- DORA KRAMER Elenco de canastrões
- LUÍS NASSIF Uma questão de tributo
- PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. Antídoto contra a mudança
- JANIO DE FREITAS Questão de ordem
- Responsabilidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- DEMÉTRIO MAGNOLI A ética de Lula e a nossa
- ELIANE CANTANHÊDE Caminho da roça
- CLÓVIS ROSSI Legalize-se a corrupção
- Editorial de A Folha de S Paulo PRISÃO TARDIA
- Lucia Hippolito :Uma desculpa de Delúbio
- Cora Ronai Não, o meu país não é o dos delúbios...
- Miriam Leitão Dinheiro sujo
- MERVAL PEREIRA Seleção natural
- AUGUSTO NUNES Tucanos pousam no grande pântano
- Villas-Bôas Corrêa- Lula não tem nada com o governo
- José Nêumanne'Rouba, mas lhe dá um bocadinho'
- Entre dois vexames Coluna de Arnaldo Jabor no Jorn...
- Zuenir Ventura Apenas um não
- Editorial de O Estado de S. Paulo As duas unanimid...
- Luiz Weiss O iogurte do senador e a "coisa da Hist...
- Nunca acusei Lula de nada, afirma FHC
- Editorial de O Estado de S Paulo Triste tradição
- Editorial de O Estado de S Paulo Lula sabe o que o...
- A mentira Denis Lerrer Rosenfield
- As duas faces da moeda Alcides Amaral
- LUÍS NASSIF O banqueiro e a CPI
- FERNANDO RODRIGUES Corrupção endêmica
- CLÓVIS ROSSI Os limites do pacto
- Editorial de A Folha de S Paulo O CONTEÚDO DAS CAIXAS
- Editorial de A Folha de S Paulo A CRISE E A ECONOMIA
- DORA KRAMER À imagem e semelhança
- Miriam Leitão :Mulher distraída
- Zuenir Ventura aindo da mala
- Merval Pereira Vários tipos de joio
-
▼
julho
(532)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário