Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 10, 2005

LUÍS NASSIF Crise e transformações

folha de s paulo

  Jorge Frederico Gerdau está exultante com a crise. Com ele, mais alguns brasileiros. Não que torçam pela crise em si ou pela desestabilização do governo, mas pelas possibilidades que abre. O Brasil só é movido a crises. E, graças a ela, uma luta de 15 anos, vitoriosa no setor privado, começa a se tornar bandeira nacional: a bandeira da qualidade e do "choque de gestão".
O movimento pela qualidade mudou a face do setor privado no país, transformando as grandes empresas brasileiras, de paquidermes ninados na reserva de mercado, em modelos mundiais de gestão. Faltava o setor público.
Na semana passada foi a vez da Prefeitura do Município de São Paulo, comandada por José Serra, acertar um convênio com o Movimento Brasil Competitivo (MBC), uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) financiada por grandes empresários para levar gestão ao setor público.
Finalmente, dias atrás houve uma reunião do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, com empresários do MBC.
A política nacional e o governo federal se renderam a uma bandeira óbvia, que estava solta há muitos anos. São 15 anos martelando o ferro frio. Nesse período, o único presidente a perceber o potencial de transformação da gestão foi Fernando Collor, que deu gás ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o tema sensibilizou o então chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, e o ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, mas jamais se transformou em bandeira de governo.
Virou um prêmio de qualidade do setor público que, nos estertores do governo FHC, transformou-se no MBC, por meio do qual um grupo de empresários de ponta faz doações, vinculadas para investimentos em tecnologia de gestão, destinadas a melhorar a administração pública. Depois, se vai buscar parceria no setor público. Já foram fechados convênios com os ministérios do Exército e do Desenvolvimento Social.
Agora, o tema entrou definitivamente no discurso político geral. Nos próximos dias, terá início o maior dos desafios, o da reforma gerencial da Previdência Social. O setor privado já iniciou a captação de recursos para bancar a consultoria. Lula garantiu a escolha de um executivo profissional para dirigir a pasta. Os diagnósticos iniciais indicaram uma possibilidade de economia anual da ordem de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões, apenas tapando os vazamentos do sistema.
Se o grupo quiser acelerar ainda mais o ajuste, aliás, seria conveniente convocar o Banco do Brasil. Hoje em dia é possível a qualquer pessoa saber seu saldo de qualquer lugar, por meio da internet. Nos próximos dias, essa tecnologia estará disponível em telefones celulares.

Espelho
O sistema de pagamentos da Previdência é um espelho dos procedimentos bancários. O conceito de atendimento é o mesmo. Os bancos já possuem processos bem ajustados, já desenvolveram tecnologias de segurança para evitar fraudes, diariamente estão pagando cheques depositados, faturas de cartão de crédito. Aliás, muito mais fácil do que um sistema bancário, porque a Previdência apenas arrecada e paga, sem ter riscos de crédito.
Com o redesenho de processos por parte dos consultores, com a parceria com os bancos públicos, será possível reduzir as fraudes da Previdência em pouquíssimo tempo.
Dispondo de um sistema integrado de atendimento, fornecido pelo Banco do Brasil, nada impedirá que, além da rede própria, o INSS possa ter postos de atendimento em lotéricas e em outras redes de correspondentes bancários.
Essa possibilidade existia há tempos. Jamais foi implementada porque o aumento da fiscalização dos repasses não interessava a muitos. Assim, as fiscalizações restringiam-se a recadastramentos humilhantes que, em pouco tempo, perdiam valor.
Agora, esses novos valores vieram para ficar, seja qual for o governo ou o próximo presidente.

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