folha de s paulo
A avalanche de descobertas indiciadoras e de mentiras desfeitas, dia após dia, dificulta a compreensão dos mecanismos e do alcance da engrenagem de corrupção que vazou a partir de um vídeo sobre apenas R$ 3.000. Uma certeza, porém, pode-se ter: o que vem por aí, se houver investigações de fato, é muito maior como extensão da engrenagem, como envolvimentos (pessoais e de entidades) e como volume financeiro. É assustador, mas é isso mesmo.
Note-se que as descobertas jorram e nem há, até agora, investigações propriamente. O trabalho da CPI dos Correios consistiu em tomar os primeiros depoimentos e requerer informações documentais que mal começam a ser apreciadas. A CPI nem mesmo se adaptou, ainda, para a tarefa que vai crescendo à sua frente.
Ao que se pode saber, os auditores e outros técnicos requisitados são muito poucos para a documentação já recebida e ainda intacta; faltam providências de segurança para evitar que a corrupção possa contaminar, por interessados, algum dos pontos de trabalho técnico; e, pela variedade de assuntos e linhas investigatórias evidenciados, parlamentares da CPI já deveriam estar divididos em grupos temáticos para acelerar as apurações.
É provável que nos próximos dias cresça a discussão sobre a conveniência de unir, em uma só, as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. A proposta é defensável considerando-se o funcionamento de Senado e Câmara. Mas também é criticável, pela dificuldade de seu controle, considerando-se o altíssimo poder político concentrado em uma CPI da Corrupção em geral.
E o poder que deve se impor é o da limpeza administrativa, da moralização partidária e da punição. O excesso de poder político se volta, sempre, contra as instituições democráticas e o Estado de Direito. O que seria facilitado, nas circunstâncias atuais, pela fragilidade do governo Lula.
O governo está minado. O fato, por exemplo, de que Lula reafirme sua confiança no ministro Luiz Gushiken não dispensa a necessária e promissora investigação das relações entre governo e fundos de pensão.
Daí até o que aparenta ser, mas não é, o outro extremo em montantes financeiros -os cartões de crédito bancados pelo governo-, as improbidades puxam-se umas às outras, no caso de investigação ampla e séria.
Contratações, compras, fiscalização: não há ministério onde a colheita fosse frustrante.
Só por falar em improbidades, o IRB surgiu na onda ao lado dos Correios, mas o ministro Antonio Palocci, que por lá mantinha pelo menos um indicado seu, produziu o milagre do esquecimento geral. E no IRB não foram R$ 3.000.
Quanto à parte que já está sob exibição pela CPI, a engrenagem começa a mostrar extensão e conexões que lembram aquelas organizações clandestinas celebrizadas em Chicago na década de 1920.
São fortunas que se movem mas não se explicam, avais contestados e logo confirmados, empréstimos inconvincentes, contratos de publicidade incabíveis, presença na fiscalização financeira -tudo isso é típico de uma imensa cobertura para arrecadação, inclusive por meios criminosos, de grandes somas, com propósitos ainda não esclarecidos.
Aliados
Ao fazer a nomeação de Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho, Lula estará oficializando a CUT como instrumento do governo, ou seja, da política econômica em vigor.
Logo, com a CUT no atual Ministério do Trabalho, os trabalhadores nunca estiveram tão longe do governo.
Entrevista:O Estado inteligente
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