Folha de S Paulo
De público, não se admite. Mas o artigo mais lido no Palácio do Planalto nos últimos dias tem sido "Uma saída à chilena", do senador Jefferson Peres (PDT-AM), publicado na quinta-feira passada na Folha. Nele, Peres reitera sua desconfiança de que o núcleo dirigente do PT tinha um projeto de "mexicanização" do país. Seria mantida a democracia formal enquanto o partido trataria de assumir o controle do aparelho estatal e de boa parte da sociedade organizada. Esse projeto foi abortado pelo escândalo Waldomiro. Mesmo com essa visão, Peres adverte para os riscos de uma crise institucional. E recomenda um pacto como foi feito no Chile. Temia-se que a redemocratização levasse o partido político que chegasse ao poder a práticas populistas. Acertou-se um pacto entre os militares e os partidos, que preservou a estabilidade econômica e permitiu a continuidade da modernização do país. Sua proposta é a de que os quatro grandes partidos -PT, PSDB, PFL e PMDB- acertem um pacto de governabilidade, garantindo a estabilidade econômica e as condições para a recuperação do crescimento. Em lugar de "mexicanização", a "chilenização", propõe Peres. A rigor, não há uma estratégia traçada no Planalto para abortar a crise, a não ser insistir na chamada agenda positiva e aguardar que surja uma "chilenização" no meio do caminho. Mesmo assim, tem-se a confiança de que essa possa ser uma das saídas para interromper a escalada da crise. Admite-se que, se for esse mesmo o caminho, a hora ainda não chegou. Há a consciência de que a curva de denúncias ainda está ascendente, vai chegar ao ápice no dia 2 de agosto, quando José Dirceu irá depor na CPI. A esperança do Planalto é a de que até meados de agosto comece a inflexão da curva. Até lá, supõe-se que o aparecimento de nomes de outros partidos nas denúncias arrefecerá o ímpeto da oposição. O Planalto se animou com a entrada do deputado federal Roberto Brandt (PFL-MG) na dança, recebendo contribuições de campanha pela conta da agência de publicidade. Não por ser ele um pândego, mas por ser sério, confirmando a denúncia de Lula de que ninguém escaparia do caixa dois. Aliás, a estratégia de Lula, na entrevista de Paris, era essa mesmo: igualar todos por baixo.
Os interlocutores
Para um pacto à chilena, o desafio maior é saber quem tira o par para a dança. Do PFL não se espera muito. Considera-se que está nas mãos da inexperiência do líder Rodrigo Maia (RJ) e da oposição entranhada do presidente Jorge Bornhausen (SC). No PSDB, se acredita em boa interlocução com o senador Tasso Jereissatti (CE) e com o prefeito paulistano José Serra. Mas sabe-se que, enquanto a fogueira não diminuir, não haverá espaço para conversas. São desenhos ainda, esboços sem uma unidade de pensamento e de ação. E ainda sem clareza sobre os desdobramentos dos escândalos e da CPI, que trincaram o modelo político atual de forma irreversível. O desalento com o momento atual é tamanho que, na sexta-feira, um grande empresário me dizia que seu único temor era o de que a crise não fosse até o fim, não resultasse em nenhuma mudança e terminasse em um almoço de pizza da elite política -que tem em Lula sua expressão máxima. Se o país tivesse que pagar o preço de uma crise econômica, seria melhor do que varrer a sujeita para baixo do tapete, em nome de uma governabilidade sem futuro. Significaria matar o futuro. Em qualquer momento do futuro, as principais lideranças políticas terão que sentar para o acerto de contas, os partidos terão que explicitar suas propostas para o país e, especialmente, trabalhar na reforma política. Será o ponto final em um modelo que nasce com a eleição de Tancredo e se encerra com o ocaso de Lula, basicamente dominado pelos herdeiros da chamada "sociedade civil organizada" dos anos 80. E que se prolongou além do esperado, pelo fracasso da revisão constitucional. O país sofisticou-se demais nesse período. Não cabe mais no figurino do modelo político atual.
Entrevista:O Estado inteligente
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