Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 19, 2005

JANIO DE FREITAS O troféu a quem merece

folha de s paulo
 Ao inventar o Troféu Óleo de Peroba, o deputado José Thomaz Nonô teve, talvez sem o perceber, mais do que uma de suas tiradas: criou um recurso de linguagem jornalística.
Certas atitudes não são definíveis sem que se escorre em alguma dose de grosseria, e os eufemismos convencionais aveludam demais o que deve ser dito. As palavras, por exemplo, para definir uma das respostas de Lula na entrevista em Paris são, todas, mais pesadas do que o caso requer. É aí que entra o achado de José Thomaz Nonô.
A repórter perguntou a Lula sobre a reeleição. Como sempre, Lula não está pensando nisso, deixa o assunto para o ano que vem, apesar de todas as evidências de que, desde o dia seguinte à posse, sua maior ocupação é com eventos típicos de campanha. Lula tem um complemento para a resposta de sempre: [antes de cuidar de reeleição] "tenho que cumprir as promessas que fiz ao povo na campanha".
Os 10 milhões de empregos? Reforma agrária verdadeira e inteligente? A desconcentração da renda? A auditoria da dívida externa? Ou seriam outras as maravilhas que relegou nos dois anos e meio já transcorridos do mandato, e realizará, todas, no restante ano e meio?
A resposta de Lula é vencedora antecipada de uma das categorias do Troféu Óleo de Peroba e candidata forte à premiação geral e mais alta. Na qual Lula compete com Lula, autor de vasta produção no gênero. Mas as aventuras de seus companheiros lançaram novos candidatos em competição feroz.
O mecenas Marcos Valério lança a nova versão para a dinheirama que o une a uma patota petista. Não satisfeito com a fábula do aval fraterno exposta na CPI, aumenta o lance: foram R$ 39 milhões que tirou, por empréstimos bancários, em nome de suas empresas e os entregou ao PT, para repasse a nomes indicados pelo amigo Delúbio Soares. E, ante um brando questionamento do repórter sobre o empréstimo do empréstimo, esclarece: "Normal. Normal".
Cena que Delúbio Soares, sempre determinado a disputar a categoria maior do troféu, ultrapassou já no dia seguinte. Perguntado se sua nova versão, idêntica à de Marcos Valério na véspera, resultava de combinação ou de coincidência, Delúbio foi preciso: "Coincidência, só coincidência". Mal chegara da viagem para encontrar-se, em Belo Horizonte, com Marcos Valério.
O fato de estar mandado para corner pelos companheiros não retira de José Genoino, com a vasta produção que já lhe deu o prêmio nos últimos anos, a condição de grande candidato atual. Com destaque para esta jóia sobre o empréstimo maroto: "Eu não sabia que ele [Marcos Valério] é avalista. Eu assinei sem ler".
Não é muito mais delicado falar, em relação a essas atitudes e seus autores, no Troféu Óleo de Peroba para caras-de-pau, do que usar palavras equiparadas pelo Aurélio, para as mesmas situações, como "cinismo, impudência, desfaçatez, descaramento"?
Pelo que se está vendo e, mais ainda, pelo que se espera, o deputado José Thomaz Nonô bem que podia enriquecer suas tiradas úteis.
Em tempo: está previsto para logo mais o depoimento, na CPI dos Correios, de Silvio Pereira, secretário afastado do PT. Como se trata de uma das mais puras inocências do PT, ao lado das mais conhecidas também alijadas da direção partidária, o depoimento promete aumentar a competição pelo troféu. Nada, porém, que abale a expectativa quanto ao depoimento, amanhã, do competidor Delúbio Soares. A menos que José Genoino reapareça ou Lula faça um dos seus improvisos.

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