ELIANE CANTANHÊDE Operação Paraguai

BRASÍLIA - De Lula, naquela entrevista esquisita de domingo: "Não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção".
Por "um dirigente ou outro", entenda-se: o presidente do partido, o ex-presidente, o vice-presidente, o secretário-geral, o tesoureiro, um ou dois ministros. "A oligarquia partidária", como dizem. E que virou e mexeu, mas continua mandando.
Inebriados com a pesquisa CNT-Sensus (aquela do Lula reeleito), PT e governo partiram para uma estratégia arriscada de espalhar lama e -o que é pior- começam a confundir Lula com as denúncias e com o PT. Virou rotina. Todo dia mais uma denúncia cabeluda, e Lula dizendo que ninguém combateu tanto a corrupção quanto ele. Não há respostas, só declarações fajutas de suspeitos e discursos vazios do presidente.
Na sexta, a "entrevista" de Marcos Valério; no sábado, a de Delúbio Soares; no domingo, a de Lula. Os dois jogam bomba para os petistas. Lula tenta justificar e não se sujar.
Tudo começou com R$ 3.000 no bolso de um burocrata, evoluiu para a denúncia do "mensalão", chegou à Telemar-Fábio Luiz e se disseminou na versão paraguaia de Valério e Delúbio, de "empréstimos", caixa dois e dinheiro para a campanha de petistas -exceto para a de Lula, claro. Um legítimo escândalo sacoleiro. E de final imprevisível.
Se surgiu alguém emocionado e verdadeiro foi a professora Sonia Maria Kruppa, que, apesar de defender o governo, refletiu a perplexidade, a dor e a raiva das bases petistas: "Como milhares de petistas, trabalho por um país mais justo, com princípios e ética na defesa da coisa pública e por uma sociedade em que todos tenham igualdade de condições", escreveu no "Painel do Leitor".
Enquanto Lula se confunde com estratégias, versões e o "erro de um dirigente ou outro", a professora fala por um outro PT. Lula está sem discurso e a cúpula mente. O partido tenta salvar sua própria história.