Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 21, 2005

JANIO DE FREITAS Na CPI sem o I

folha de s paulo

  O conhecimento dos fatos não avançou sequer um milímetro nas inquirições de Delúbio Soares e Silvio Pereira, cuja atitude esteve mais para o desafio e o deboche, mas avançou bastante o conhecimento público do tipo de gente, de ilimitação e de propósitos que estão na origem e no centro da crise. Quem ainda tinha alguma reserva em relação às denúncias e acusações, como a suspeita de "uma armação para derrubar Lula", viu em Delúbio e Silvio as evidências de que a falta de defesa convincente dos acusados, dos dois e dos outros, só expressa o seu comprometimento inconfessável nas ilegalidades denunciadas.
A impressão que os dois não-depoentes transmitiram, até onde pude sondar, é a de perda absoluta, se um dia a tiveram, da compostura moral: pessoas capazes de dizer qualquer mentira, com um sorriso ou um atrevimento, para resguardar sua capacidade de cometer qualquer ato conveniente aos seus fins.
Não se sabe o que decorreria de um comportamento honesto que os dois depoentes assumissem na CPI. Afinal de contas, não se sabe que fatos poderiam revelar, embora se saiba que o já descoberto está longe do que ocorreu nos últimos anos. Mas ficou claro que os dois receberam orientação muito ruim, porque agravaram as suas situações, a do PT e a do governo mesmo sem dar uma só informação que colaborasse para resultado tão negativo. O plano e a versão formidáveis para a defesa mostraram-se, dentro e fora da CPI, desastrosos não só para Delúbio e Silvio, mas também para Lula, que se comprometeu com a versão e o plano desatinados.
Guardadas as proporções, não estão em situação muito melhor os petistas da tropa de choque governista que, até o comparecimento desmascarante de Silvio Pereira, atacaram as denúncias e, por sucessivas sessões da CPI, agiram contra as investigações. A atitude antidemocrática e patética que tiveram, e ainda nem abandonaram de todo, ficará nas biografias políticas tão respeitáveis que tantos deles construíam. Comprometeram-se com o que combatiam.
O dever parlamentar exige também de determinados oposicionistas a correção de suas atitudes na CPI. É inadmissível o interrogatório policialesco que às vezes acontece, estilo em que são expoentes os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto e Onyx Lorenzoni, do PFL, e Eduardo Paes, do PSDB. No Estado de Direito, esse tipo de interrogatório não tem cabimento nem em distrito policial, quanto mais no Congresso. A agressividade, a exaltação pressionante e os insultos adotados por certos parlamentares constituem, e como tal devem ser reprimidos, a prática ilegal de abuso de poder.

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