A opinião pública está desde já na posição de quem se dispõe a pagar para ver se é blefe ou se terá substância a devassa nos procedimentos do tesoureiro do PT Delúbio Soares e do secretário-geral Sílvio Pereira, obrigados a deixar os seus cargos no processo de expurgo que culminou sábado com a queda do presidente José Genoino. O pente-fino, que incluirá dois inquéritos na comissão de ética do partido e a revisão dos negócios bancários intermediados pelo empresário Marcos Valério, denunciado como o pagador do "mensalão", foi anunciado pelo sucessor de Genoino, Tarso Genro. Ele deixa o Ministério da Educação para tentar recompor a imagem do partido e revitalizar as chances de reeleição do presidente Lula, mudando os métodos - e as figuras - que o deputado José Dirceu impôs à legenda pelo menos desde 1995, quando assumiu a sua direção pela primeira vez. A saída de Genro do ministério, assim como a de Ricardo Berzoini, que passou a ocupar a secretaria do partido, e mais a designação do já ex-ministro da Saúde Humberto Costa para o lugar do secretário de Comunicação Marcelo Sereno, também defenestrado, representam o equivalente a uma intervenção federal no comando do partido de Lula, conduzida pessoalmente por ele. A operação começou na sexta-feira, selando a sorte de Genoino, que estava determinado a continuar na chefia da agremiação, apesar das pressões em contrário. Mas, ao tomar conhecimento do esquisitíssimo caso de um assessor do irmão dele, deputado estadual no Ceará, preso em Congonhas com R$ 209 mil numa sacola e US$ 100 mil sob a cueca, Lula decretou: "Infelizmente, não temos mais como segurar o Genoino." De fato, não tinham. José Adalberto Vieira da Silva - o assessor cujo nome consta da rica agenda de telefones de Marcos Valério, como se viria a saber - foi apanhado pela Polícia Federal no mesmo dia em que o jornal O Globo divulgava a história do motorista de uma deputada do PT de Goiás, Neyde Aparecida. Ele disse que ela o mandou apanhar US$ 200 mil na sede do partido, em São Paulo, no ano passado. (Ontem, para algum alívio do PT, foi preso o deputado federal do PFL João Batista Ramos da Silva, "bispo" da Igreja Universal Reino de Deus, com sete malas de dinheiro, no hangar da TAM em Brasília. Ele alega que o dinheiro era da Universal.) De todo modo, a imersão do presidente da República nos problemas do partido é indício de que ele desistiu de agir como se não o preocupasse a seqüência de escândalos que ocupam as atenções nacionais, deixando rota a bandeira do monopólio da ética que o petismo ostentava com soberba. Sintomaticamente, Tarso Genro bateu mea-culpa a respeito. "Cometemos o erro de jogar exclusivamente nas costas do PT que somos a imagem da ética", disse ele domingo. "Nós somos, mas não somos os únicos." Descrito como triste e angustiado por interlocutores recentes, Lula transmite aos íntimos a convicção de que é preciso "abrir as contas do PT" e identificar claramente as responsabilidades por todos os seus ilícitos que vierem a ser descobertos. O saneamento do partido, portanto, é o alvo da intervenção presidencial. Pena que o comportamento público de Lula não indique que ele se convenceu da gravidade da crise. Talvez, para exibir consciência tranqüila, superou todas as "performances" oratórias anteriores em matéria de bobagens e nonsenses, no discurso na posse de três novos ministros, comparando compra de remédios com pedido de uma dose de cachaça num bar, aconselhando os brasileiros a dar caminhadas, "em vez de ficar vendo na televisão notícia ruim", explicando que os casais "não têm que ter um filho a cada vez que têm uma relação". Antes disso, no mesmo cenário, mas em outro improviso, justificando a manutenção de Gushiken no governo, produziu outras pérolas de oratória e de argumentação: "Eu acho que nós precisamos tratar esses assuntos com carinho. Todas as coisas serão investigadas no momento certo, com o cuidado certo, com o critério certo, ou seja, por isso que eu nasci contra a pena de morte. Sendo contra a pena de morte, por que eu vou ser favorável à pena de morte na política?" (sic!). Ele esqueceu que não estava intervindo na Executiva do PT, mas invadindo a esfera da CPI, sob cujos critérios e cuidados, no momento certo, será decidido quem será e quem não será condenado à morte (política). Mas a CPI é assunto do editorial abaixo.
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terça-feira, julho 12, 2005
Intervenção federal no PT
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