Inferno de Dante João Mellão Neto

O Estado de S Paulo
Abandonai todas as esperanças, ó vós que entrais!
(Dante Alighieri-inscrição no portal do Inferno)

 

Como choram os petistas! Os corruptos, em geral, não se debulham em lágrimas quando são flagrados. Preferem as argumentações eivadas de cinismo. Na petelândia, não. Os emotivos próceres do partido caem em prantos. Na semana passada a TV mostrou um discurso em Goiânia no qual o tesoureiro Delúbio Soares, envolvido até a alma nos escândalos, chorava copiosamente ao afirmar que nada fizera de errado, que todas as suas ações foram em prol do partido e que tudo não passava de um golpe das elites.

 

Ao se afastar da Executiva do partido, na terça-feira, pretextou ter-se conduzido sempre 'com seriedade e honestidade' e a prova disso seria o seu 'reduzido patrimônio'.

 

Silvio Pereira, secretário-geral do PT, ao sair também chorou e deixou nota em que afirma estar com a consciência tranqüila e que nada fez senão visando 'os interesses maiores do partido'. José Dirceu ficou com os olhos vermelhos quando renunciou à Casa Civil, Genoino tem chorado inúmeras vezes no decorrer da crise e o próprio presidente Lula, segundo Roberto Jefferson, teria chorado quando soube do mensalão. Tantas lágrimas assim hão de fazer transbordar o Rio de Piracicaba, como diz a música sertaneja. Corrupção lacrimosa, sem dúvida, é um fenômeno inédito no Brasil. Ou o PT é uma filial do famoso Actors Studio ou então... toda essa choradeira é autêntica. Isso mesmo: os petistas, coitados, realmente acreditam que nada fizeram de condenável.

 

Por conhecer a alma petista, sou levado a acreditar na segunda hipótese. Sim, eles crêem que agiram certo...

 

Dora Kramer, na sua coluna de quarta-feira, acertou em cheio. Observou ela que, de acordo com os cânones da religião petista, 'usar e abusar do Estado burguês' não é considerado pecado, 'se a causa for a construção do Nirvana dos bemintencionados'. Análise perfeita. Para comprová-la basta atentar para o curioso fato de que ninguém está sendo acusado de enriquecimento pessoal ilícito.

 

Essa gente está isenta da ganância própria da burguesia. Não roubam para si, mas para a causa. E roubar para a causa não é crime. É apenas um expediente útil de extrair dinheiro dos capitalistas para usá-lo contra o próprio capitalismo... E assim, sem dor de consciência, todos podem dormir o sono dos justos. 'Temei os homens que leram um livro só!', alertavam os antigos. É verdade. Sempre, na História, foi em nome de boas causas que se cometeram as maiores atrocidades. A 'causa' dos petistas - ao menos dos autênticos - é para lá de grandiosa. O PT, desde o início, nunca se julgou um partido qualquer.

 

Era 'o Partido', uma agremiação única, um partido que surgira para acabar com todos os outros partidos. Seu objetivo não era apenas alcançar o poder.

 

Essa é a meta dos partidos burgueses. Para os petistas, embalados pelos evangelhos marxista-leninistas, o poder era apenas um meio. O fim maior era o de, através dele, mudar o Estado, reformar a sociedade e reconstruir a própria natureza humana. Para alcançar metas tão ambiciosas não se podem medir esforços ou se deixar limitar por escrúpulos de natureza moral. Que se danem as regras, os costumes e a ética do convívio democrático! Tudo vale a pena se a alma não é pequena! Tudo pelo socialismo! Como diria Vandré, foi 'com a certeza na mente e a História na mão' que os resolutos companheiros petistas caminharam, por mais de 20 anos, rumo ao poder.

 

Não titubearam em lançar mão de qualquer expediente, por mais escuso que fosse, para alcançar o objetivo maior. Apóstolos do gramscismo, a cada posto galgado, a cada prefeitura conquistada, trataram de ordenhar o erário, abastecer o caixa e alavancar a causa. Haja vista o muito mal explicado episódio de Santo André. 'Lei e ordem', esse surrado binômio burguês, nunca foi um empecilho. Ao contrário. Afrontar a lei, desprezar as instituições e promover a desordem foram os meios preferidos da luta pelo poder. O famigerado MST, pupilo dileto dos petistas, é um bom exemplo dessas práticas.

 

Quando finalmente lá chegaram, os destemidos cruzados descobriram que a construção da Nova Sociedade e do Novo Homem não seria tão simples assim. Havia a democracia, esse sórdido ardil da classe dominante para manter o status quo. Não se deteriam por isso.
Que se dane a democracia. Passou a viger o vale-tudo.

 

Esquartejaram o corpo do Estado e repartiram a sua carne entre os militantes do partido. Algumas postas, pragmaticamente, foram entregues à carniça dos abutres aliados.

 

Reduziram o Parlamento à condição de bordel, um repugnante mercado de carne humana onde compravam consciências a preço de michê... Sugaram o sangue dos bancos públicos para financiar a estruturação do partido. Promiscuíram-se com a escória humana.

 

Desdenharam das instituições, menoscabaram os poderes constituídos e escarneceram dos programas partidários. Urinaram nas leis, defecaram na Constituição e transformaram a República numa imensa latrina, uma cloaca onde lançaram seus dejetos ideológicos.

 

Os usos e costumes, a moral, a ética, o espírito cívico, tudo isso foi reduzido a escombros pelos santos cruzados do socialismo.

 

Agora que foram flagrados, surpreendentemente eles choram! ' Por que nos perseguem?', lamuriam-se. 'O que fizemos de errado?!' Se eles não sabem, nem vale a pena tentar explicar-lhes...

 

A bem do Brasil, o importante é que eles partam. Que vão embora para sempre. Submerjam nas trevas de onde nunca deveriam ter saído. Quando chegarem ao nono círculo do Inferno, quem sabe o próprio Lúcifer em pessoa se disponha a lhes servir de psicanalista.
Xô, urubus! Se for por falta de adeus, companheiros, até logo!?