Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 14, 2005

Euforia equivocada GILBERTO DIMENSTEIN

FOLHA DE S PAULO
A operação da Polícia Federal contra a Daslu produziu uma euforia em determinados segmentos da sociedade como se, enfim, os ricos estivessem sentindo o rigor da lei.
A Daslu, afinal, é menos uma loja e mais um ícone da desigualdade social; todos os endinheirados parecem ter ido para a cadeia com a prisão de Eliana Tranchesi. A euforia está, porém, focando o alvo errado.
Nada contra, óbvio, a polícia punir aqueles que infringem a lei. É bom mesmo que ninguém, muito menos a elite, sinta-se impune; para o trabalhador, a mordida dos impostos já vem no salário.
O que me incomoda é a ilusão movida pelo misto de ressentimento e inveja com ideologia supostamente progressista. Desconfio que, embalado na preocupação legal (o que é elogiável), está embutido um jogo de marketing policial -e, quem sabe, uma dose de narcisismo.
A Daslu não é causadora da desigualdade. É apenas a sua conseqüência. Se nós fôssemos condenar os empresários usando como critério o acesso de seus produtos entre os mais pobres teríamos de colocar na lista teatros, cinemas, restaurantes, salas de concerto, hotéis de cinco estrelas.
E até mesmo segmentos da imprensa escrita, cujos produtos estão longe de chegar a todos. Editoras que fazem livros de arte produzem desigualdade?
Qual é, essência, a diferença da Daslu dos demais shopping centers, levando em conta o tamanho da periferia da cidade de São Paulo. As lojas dos Jardins seriam, por acaso, símbolos de inclusão social?
São todos empresários que, em vez de colocar o dinheiro rendendo num banco, estão gerando empregos e impostos. Isso deveria ser valorizado numa sociedade de especuladores e em que faltam empregos.
Se a Daslu fraudou, sonegou, corrompeu, deve pagar, sem piedade, pelos seus erros.
Mas transformar isso em bode expiatório é mais ignorância do que ideologia.

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