CLÓVIS ROSSI O novo velho PT

folha de s paulo

  PARIS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem um dia de perfeita blindagem contra a crise que o deixou muito indignado, segundo confissão de um assessor próximo, falando, claro, na condição de o nome não ser revelado. Volto à indignação depois.
Falemos por ora de blindagem. Não se tocou em crise nos quatro recantos em que Lula esteve até a hora em que escrevo (faltava só o show na Bastilha): a Sorbonne, um almoço com empresários no Bois de Boulogne, palestra para ONGs no Fórum Brasil/ França da Sociedade Civil e coquetel na Prefeitura de Paris, sob os grandes afrescos da trilogia "Liberté, Egalité, Fraternité".
Em vez de crise, uma coleção de elogios, como o do prefeito socialista de Paris, Bertrand Delanöe: "Todos os dias, a sua força e a sua visão estão a serviço do povo brasileiro".
Nem assim, no entanto, Lula animou-se. Sua resposta ao animado improviso do belo orador que é Delanöe foi ler monocordicamente seu próprio discurso, sem improvisar, a não ser para lamentar que Raí, presente ao ato, não jogou no Corinthians, time do presidente.
É verdade que Lula, como toda a comitiva, estava cansadíssimo pela viagem aérea longa e pelo fato de já ter chegado em cima da hora para o compromisso na Sorbonne, o primeiro do dia.
Mas, certamente, pesou o fato de que está indignado. Não aceita, pelo que a Folha ouviu, que esteja acontecendo o que está acontecendo justamente com o governo dele.
Tentei investigar se culpa os jornais por uma suposta ou real injustiça com o governo ou se culpa quem fez acontecer o que está acontecendo. Ouvi como resposta que vale a segunda hipótese.
O que não fica claro é que respostas dará para curar sua indignação, a não ser a mexida no PT, que parece apontar para uma "repetização" do partido enquanto se "despetiza" o governo. Confuso? Eu também acho, mas não tenho culpa.