Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 05, 2005

ELIANE CANTANHÊDE O sonho acabou

folha de s paulo
 
BRASÍLIA - O "muro" caiu há 15 anos, a União Soviética desmoronou, a China aderiu ao capitalismo do vale-tudo, a Albânia foi a última bóia do PC do B até despejar gente faminta e piolhos na Itália. Foi com certo atraso, pois, que uma onda soprada pela esquerda tentou chegar à América Latina no novo século.
E essa onda pode passar antes mesmo de chegar. Fidel envelheceu sob diferentes aspectos, Chávez orgulha-se do isolamento, Lula está dando nisso aí, Lagos é de centro, Kirchner não é ideológico, só intuitivo, Vázquez está verde. O elo é sobreviver à hegemonia esmagadora dos EUA.
Ao tomar posse, Lula admitiu que a derrota do seu governo seria a derrota das esquerdas. O que dizer agora? O partido da ética e da justiça social sucumbiu a uma prática política obsoleta e abjeta. E é suspeito de aperfeiçoá-la. Além de empresas privadas financiando campanhas, as públicas bancam partidos. Além do fisiologismo das emendas e dos cargos, a compra em espécie de deputados. E o presidente não vê. Aliás, não vê nada.
Foi-se o sonho, o que fica melancolicamente claro no relato de Laura Capriglione, na Folha de domingo, sobre o 12º encontro da esquerda latino-americana em São Paulo. Da tribuna, o anfitrião anunciava 106 delegados e 276 convidados de 42 países. Na platéia, 96 gatos pingados. Até aí o sonho era um, a realidade, outra.
A expectativa em relação ao governo de Lula e do PT era imensa. A desolação é ainda maior. A esquerda era pura, honesta, do bem. A direita era impura, desonesta, do mal. Agora, todos são do mal, com uma diferença: a direita é mais competente. Faz até os programas sociais que julgávamos patenteados pela esquerda.
O país parece dividido entre PT e PSDB, mas a grande vitoriosa é a direita. Nem precisou ganhar, porque a esquerda é que perdeu. Ou se perdeu.

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