Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 24, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Desta para melhor

Folha de S Paulo

  BRASÍLIA - No escândalo Collor, havia um esquema centralizado e o problema estava nas pessoas. Tirou-se a turma e recomeçou-se o jogo com apoio político, empresarial, militar e popular. Funcionou.
No atual escândalo, o esquema tem uma central, mas é disseminado e chega à oposição. O problema não são as pessoas, ou só as pessoas. É o sistema, que engoliu até os brios do PT. Não basta tirar a turma, como extirpar um tumor. É preciso atacar uma doença crônica.
Devem ser cassados de dez a 15 parlamentares, e já se discutem abertamente os prós e os contras de José Alencar. Idéias borbulham em épocas de aperreio, e fala-se também em convocar uma Constituinte ou em antecipar as eleições para janeiro.
O fundamental, porém, é discutir e produzir algo mais perene: a reforma política, para reforçar os partidos, trazer às claras os financiamentos de campanha e estabelecer limites reais para as relações público-privadas.
Todos os partidos têm caixa dois. É errado, mas crônico, e os políticos que o utilizam -a maioria- não são necessariamente bandidos. Bandido é o que recebe dinheiro para mudar de partido, "mensalão" para votar contra o povo, carros de empreiteiras para intervir em licitações, verbas públicas para construir patrimônios.
A CPI expõe os políticos dias inteiros, horas a fio, pela TV. Não apenas os que usam caixa dois de campanha ou os que desviam dinheiro do povo para bolsos, malas e cuecas, mas também os que vão comandar as transformações.
Os velhos caciques esgotaram-se, os Severinos são o fim de uma era. Os Delcídios, os Gustavos Fruets, as Denises Frossard, os Eduardos Cardoso, os Rodrigos Maia, os Eduardos Paes, os ACMs Netos vêm para ficar, inclusive com uma melhor compreensão do confronto ideológico. Fim do bangue-bangue entre mocinhos (de esquerda) e bandidos (de direita). O filme é outro.
Com a população atenta, participativa e justamente indignada, pode-se sair desta para uma melhor. Para não morrer, pura e simplesmente.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog