A guerra de Chávez
No início do ano, o presidente Hugo Chávez aprovou um plano para uma radical mudança da doutrina de segurança nacional da Venezuela. No dia 5 deste mês, durante as comemorações do 184º aniversário da independência, ele anunciou um aumento de 50% a 60% nos soldos dos militares e considerou implementados os planos que prevêem "uma prolongada guerra contra as forças do império americano e seus lacaios nacionais". Os planos militares de Chávez são delirantes. Partem da suposição de que os Estados Unidos, para realizar um projeto de controle político e econômico do hemisfério e dominar as reservas mundiais de petróleo, gás e água – projeto ao qual, obviamente, Chávez se opõe heroicamente –, invadirão a Venezuela com forças superiores em número e poder de fogo às forças armadas venezuelanas. A resistência se fará, então, por meio de uma "guerra assimétrica", com a ação coordenada de forças militares regulares, reservistas e organizações civis de defesa. A reserva já foi criada. Terá, inicialmente, 100 mil homens, mas seu efetivo total atingirá 1 milhão de venezuelanos, parte dos quais receberão salários. Para armar essa milícia, Chávez comprou 100 mil rifles AK. Também encomendou cerca de 50 aviões de combate e outro tanto de helicópteros, na Rússia. Chávez também está criando uma rede nacional de "inteligência social", semelhante aos "círculos bolivarianos", que nada mais são do que cópias dos comitês de defesa da revolução cubanos, que espionam e denunciam vizinhos. Para que a semelhança com Cuba seja mais completa, Chávez fez o Congresso – que controla – aprovar uma lei que considera crime qualquer crítica, mesmo que feita numa roda de conversa, ao chefe de Estado. Essa rede de "inteligência social", ainda que seja apresentada como uma organização de defesa contra a fabulosa invasão norte-americana, na verdade será um instrumento de controle político e social a serviço da ditadura constitucional bolivariana. Chávez controla o Congresso, o Judiciário e a maioria dos governos provinciais está ocupada por antigos companheiros de farda e de tentativas – foram duas – de golpes para derrubar governos constitucionalmente constituídos. Montou, também, uma grande rede de comunicação social, que bombardeia os venezuelanos com propaganda oficial, inclusive 40 horas semanais de discursos do seu epígono Fidel Castro. Mas enfrenta a oposição do empresariado e da imprensa independente. Está, agora, aplicando o velho golpe da promoção da "união nacional" através da criação de um inimigo externo. No início da década de 1980 a cambaleante ditadura argentina usou esse recurso e o resultado foi a Guerra das Malvinas, com as conseqüências conhecidas. O coronel Chávez provavelmente não irá a tais extremos. Mas é bastante preocupante que esteja usando os superávits fiscais obtidos com a alta do preço do petróleo para promover uma corrida armamentista e militarizar a sociedade venezuelana. As compras de armas e criação de milícias e grupos de controle interno não alterarão concretamente o equilíbrio militar regional, pelo menos nos próximos cinco anos – é esse o tempo necessário para a entrega das encomendas e o treinamento dos militares. Mas as conseqüências políticas da mudança da doutrina militar são imediatas e evidentes. Em primeiro lugar, a nova doutrina deixa explícito que o governo chavista planeja aumentar a confrontação com os Estados Unidos. Em segundo lugar, pela nova doutrina, Cuba deixa de ser considerada uma ameaça à Venezuela – como de fato foi desde o início da década de 1960, quando guerrilheiros cubanos desembarcaram no país, num dos primeiros experimentos de exportação da revolução castrista – e agora passa a ser aliada. Segundo alguns analistas, a nova doutrina de segurança teria sido inspirada pelos conselheiros políticos e militares cubanos que estão na Venezuela. Em terceiro lugar, como indicam recentes acontecimentos no Peru, Equador, Bolívia e Nicarágua, fica evidenciado que o coronel Hugo Chávez pretende exportar a "revolução bolivariana" para a região, contando para isso também com os recursos do petróleo. Chávez é um fator de desestabilização política na região, e é assim que precisa ser tratado.
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quarta-feira, julho 20, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo A guerra de Chávez
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