A ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o "mensalão" do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para alguns membros das bancadas governistas do PP e do PL, Fernanda Karina Somaggio testemunhou que era o Banco Rural, e não seu ex-patrão, que patrocinava as despesas do procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, apesar de estas serem pagas pela agência SMP&B. Glênio Guedes, afastado do cargo depois que com a quebra do sigilo bancário de Valério se soube que dele recebera R$ 902 mil, era responsável por relatórios que fundamentavam decisões dos membros do Conselho de Recurso do Sistema Financeiro Nacional. Entre 2003 e 2004, ele realizou a proeza de reverter no conselho três medidas punitivas aplicadas pelo Banco Central contra o Banco Rural, por cuja conta publicitária a agência de Valério é responsável há 10 anos. Em agosto de 2003, baseado em parecer de Guedes, o conselho arquivou multa de R$ 100 mil e a pena de inabilitação para administração bancária por três anos de três executivos do banco, entre eles o então vice-presidente José Augusto Dumont, falecido em 2004, e com quem Valério costumava viajar para Brasília. Em janeiro de 2004, graças a Guedes, caíram duas multas num total de R$ 1,9 milhão por falta de controle na abertura de contas para depósito sob nome falso. E, em novembro de 2004, foi acatado recurso, mais uma vez fundamentado em parecer de Guedes, contra medida punitiva cujo teor ainda não foi tornado público. Aí está um típico exemplo de como funciona a lógica linear, descrita pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior em artigo no Valor Econômico: "Os indícios são graves se formam um encadeamento lógico e harmonioso, e provam ainda mais se os indigitados autores procuram negar os fatos sabidos com versões insustentáveis que depois se verificam ser mentiras." É este o caso! Mas há em relação a esse procurador um elemento ausente do currículo dos outros implicados na escandalosa meada cujo fio começou a ser puxado com a filmagem do burocrata dos Correios Maurício Marinho recebendo uma propina de R$ 3 mil e cresceu com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ): o genealógico. Ao contrário dos outros protagonistas do escândalo, Glênio Guedes não pode apelar para o próprio núcleo familiar como uma espécie de abrigo para fugir das falcatruas de que é acusado. Pois ele não é o único do clã a ser acusado de corrupto. Pode-se até afirmar que ele seguiu de fato um modelo ensinado e aprendido no recinto do lar. Seu pai, o advogado Ramon Guedes, mantém-se, em luxuoso apartamento na Avenida Vieira Souto, à espera do julgamento de um processo na Justiça Federal por estelionato e fraude contra a Previdência, a partir da investigação de indícios de irregularidades num posto do INSS, em Copacabana. O endereço de seu escritório, na charmosa Praia de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, também figurava como sendo do agricultor Agostinho Gomes, em nome de quem o INSS pagava aposentadoria concedida de forma fraudulenta em 1989. Quem recebia os R$ 409 mensais dessa aposentadoria era Samira, 42 anos, sua irmã, por isso acusada de lesar a Previdência em R$ 13,7 mil e condenada em janeiro deste ano a um ano e quatro meses de prisão por estelionato e fraude. Esta pena, contudo, foi substituída pela Justiça Federal por prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa. A mãe, Sami Sabbad Guedes, também foi apontada, à época, como beneficiária de aposentadoria irregular. Além da tendência ao delito, o casal e os dois filhos têm em comum o fato de terem sido apanhados em virtude de circunstâncias envolvendo cúmplices ou vítimas. Da mesma forma como Glênio foi descoberto com a quebra do sigilo bancário de Marcos Valério, sua irmã teve a fraude exposta quando seu "laranja" involuntário, ignorando o esquema de que era vítima, foi a um posto do INSS requisitar aposentadoria e se surpreendeu com a descoberta de que no papel já recebia aposentadoria. Os Guedes de Glênio têm assim uma semelhança com a família fictícia dos Adams, do seriado da televisão. Só que suas deformidades não são físicas.
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Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, julho 17, 2005
Editorial de O Estado de S Paulo O gene da bandalheira
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