Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 25, 2005

Editorial de A Folha de S PauloO SHOW DA CPI

 É inegável que a CPI dos Correios vai cumprindo satisfatoriamente o seu papel. Contrariando prognósticos mais céticos -manifestados, entre outros, por esta Folha- de que teríamos uma comissão de inquérito "chapa branca", os trabalhos até o presente momento têm contribuído para esclarecer os fatos e estabelecer o "modus operandi" do amplo esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que se instalou no país com a participação de membros do governo e do PT -além de empresas, políticos aliados e alguns integrantes de legendas da oposição.
É impossível, porém, não notar o quanto a comissão tem cedido ao espetáculo da disputa e da promoção política. Transmitidas por rádios e emissoras de TV, as sessões têm sido utilizadas por diversos parlamentares como palanque para tiradas demagógicas e demonstrações afetadas de moralismo, não raro inconvincentes e caricaturais. De um modo geral, os 15 minutos concedidos aos integrantes da comissão para que formulem questões aos depoentes têm servido para exibições constrangedoras de histrionismo, hipocrisia e estudada agressividade.
O exibicionismo assume várias formas, do insulto irado ao revanchismo, passando pelo cinismo de alguns que mal conseguem disfarçar a intimidade com práticas assemelhadas às que condenam em suas intervenções. Além disso, o afã em causar sensação tem gerado erros, como a convocação de suspeitos antes de a comissão contar com documentação suficiente para embasar as questões mais relevantes.
Era esperado que em alguma medida os holofotes da CPI fossem iluminar o show característico de deputados e senadores em busca da imagem de paladinos da ética. Seria preciso muita candura para crer que, em ano pré-eleitoral, congressistas ávidos por publicidade fossem desprezar a chance de gozar de seus 15 minutos gratuitos de fama na mídia.
Talvez possa parecer igualmente ingênuo cobrar mais compostura e sobriedade nos interrogatórios, mas é o que seria desejável para revestir as apurações de um pouco mais de credibilidade e eficiência.

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