Editorial de A Folha de S Paulo O SALTO DE SERRA

 No que configura uma reviravolta nas pesquisas, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), conseguiu, num curto espaço de tempo, saltar da condição de segundo mais mal avaliado (com três meses de administração, ele só não perdia para Jânio Quadros) para a de governante paulistano mais popular dos últimos 20 anos.
Números da mais recente pesquisa Datafolha sobre a prefeitura mostram que a gestão de Serra, que obtinha apenas 20% de avaliações ótimas e boas em abril, agora desponta com 30%. Os índices de péssimo e ruim também mudaram bastante. No levantamento anterior, 37% faziam mau julgamento da administração. Hoje, essa taxa é de apenas 23%. São resultados notáveis, principalmente quando se considera que as alterações se deram no curto intervalo de três meses.
Para dificultar um pouco mais a interpretação desses números, cabe lembrar que a prefeitura ainda está numa fase de ajuste. Até aqui, não entregou nenhuma grande obra nem, ao que se saiba, colhe resultados favoráveis de reformas introduzidas no início da administração. Parece, portanto, ganhar força a hipótese de que Serra de algum modo se beneficia da crise do "mensalão", que atinge em cheio o PT, partido que lhe faz ferrenha oposição.
O levantamento traz, porém, um dado menos favorável para as ambições do prefeito. Segundo o Datafolha, 67% são contrários a que o tucano abandone o cargo para disputar a Presidência da República. Serra aparece em todas as pesquisas de intenção de voto como o candidato com melhores chances de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há dúvida de que deixar o posto criaria um constrangimento para o prefeito. Além de expressiva maioria opor-se à saída, Serra prometeu diversas vezes durante a campanha que não o faria. Resta-lhe o consolo de que boa parte dos eleitores não espera que políticos cumpram suas promessas: 50% dos paulistanos acham que o prefeito vai sair de qualquer jeito para enfrentar Lula.